Diretora da CBS News demite-se em contexto de ataques de Trump aos meios
A diretora da estação televisiva CBS News demitiu-se na segunda-feira, invocando os recentes meses "complicados", em contexto de confrontos entre a televisão e o governo de Donald Trump, que está em guerra aberta com os meios.
O produtor do célebre programa de investigação `60 minutes`, Bill Owens, tinha saído da empresa no mês passado, deplorando os ataques à sua independência, quando Trump iniciou um ataque judicial contra o programa da CBS News, que é propriedade da Paramount.
Na direção da CBS News, Wendy McMahon tinha tomado a defesa de Bill Owens, sublinhando a sua "integridade inquebrantável" e o seu "compromisso profundo com a verdade", antes de anunciar a sua própria saída na segunda-feira, em mensagem interna.
"Os últimos meses foram complicados. Tornou-se claro que a empresa e eu não estamos no mesmo comprimento de onda quanto à via a seguir. Portanto, é altura de eu ir fazer outra coisa e esta organização continuar com uma nova direção", declarou McMahon, na sua mensagem, consultada pela AFP.
O diretor-geral da Paramount, George Cheeks, confirmou esta demissão, em nota interna, e agradeceu a Wendy McMahon a sua "liderança".
Fontes da CNBC informaram que George Cheeks exigiu a Wendy McMahon que se demitisse, durante uma discussão no sábado.
A diretora decidiu então sair e a direção da Paramount foi informada no domingo, dia do último episódio da época de `60 minutes`.
Este programa emblemático, que junta todas as semanas cerca de dez milhões de telespetadores em torno de reportagens sobre a sociedade dos EUA ou a partir de zonas de guerra, é um dos mais visados pelo ataque de Trump aos meios de informação.
No fim de outubro, Trump processou a emissão, com a acusação de ter manipulado uma entrevista da sua rival democrata, Kamala Harris. Acusações estas refutadas pelo programa e pela CBS News, e que observadores consideram sem fundamento.
A emissão tinha continuado a difundir assuntos críticos para Trump, em fundo de fusão entre a casa-mãe da CBS News, Paramount, e a sociedade de produção Skydance, que ainda tem de receber autorização da reguladora das telecomunicações (FCC, na sigla em Inglês).
A FCC é dirigida por Brendan Carr, um aliado de Trump, e integrada por mais três comissários, dois republicanos e uma democrata.
Esta, Anna Gomez, considerou nas redes sociais "mais que alarmante" a saída de Wendy McMahon da direção da CBS News.
"Os jornalistas independentes são reduzidos ao silêncio simplesmente porque o seu trabalho ameaça as ambições dos proprietários" dos seus meios, escreveu.
Além da fusão Skydance-Paramount, quantificada em 28 mil milhões de dólares, a CBS News enfrenta o processo colocado por Trump, em que este reclama 20 mil milhões de dólares a título de indemnizações.
Este diferendo pode ser objeto de mediação entre a Paramount e Trump. Os meios norte-americanos avançam que a direção da Paramount quer resolver este assunto antes de a FCC se pronunciar sobre a fusão Skydance-Paramount.
No final de 2024, a estação televisiva ABC News, filial da Disney, doou 15 milhões de dólares a um fundo supostamente destinado a financiar "uma fundação e um museu" dedicados a Trump, para que este não apresentasse um processo por difamação.