Documentário "I Love Kuduro" com estreia mundial no Festival de Cinema do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 29 set (Lusa) - O segundo filme do realizador português Mário Patrocínio, "I Love Kuduro", que conta a história do estilo musical e cultural surgido em Angola, terá sua estreia mundial nesta segunda-feira, durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro.

Lusa /

O realizador, autor também de "Complexo: Universo Paralelo", documentário filmado em favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, conta que o interesse sobre o estilo cultural africano surgiu ainda durante os tempos de faculdade, nos anos 1990, quando costumava frequentar discotecas com música africana, em Lisboa.

"Tendo alguns amigos angolanos, acabava a frequentar lugares com música africana e surgia sempre aquela curiosidade, de onde vem toda essa alegria, toda essa música, e quem são essas pessoas que fazem [esse som]?", costuma questionar-se então.

Foram necessários mais alguns anos até que o artista angolano Coréon Dú cruzasse o caminho de Patrocínio "com a mesma paixão de querer contar essa história" para que o projeto começasse a ganhar forma, conta o próprio realizador.

"Queríamos descobrir o que aquele movimento estava representando para a juventude angolana, mostrar ao mundo toda aquela cor, aquela mistura daquilo que é contemporâneo com o tradicional", recorda.

A história, contada por dez personagens relacionados ao movimento, levou cerca de seis meses de filmagem, feitas em um espaço de dois anos, além de uma fase de pesquisa prévia no qual buscaram as pessoas que iriam compor o enredo.

Entre os escolhidos estão figuras como Hochi Fu, principal `manager` e produtor do Kuduro em Angola, que regressou ao país após anos de estudo na Europa; Tony Amado, considerado o responsável por dar o nome ao movimento; e Titica, a primeira transexual de Angola.

A ideia de lançar o documentário durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro - o maior certame deste tipo na América Latina - ocorreu naturalmente, segundo Patrocínio, após a experiência e os contatos com a exibição, em 2010, de seu primeiro documentário, "Complexo: Universo Paralelo".

"É um parceiro natural porque amo o Brasil, não é somente por ser um grande mercado. Acredito que o Brasil faz parte desse triângulo Brasil-Angola-Portugal, que estamos tentando conectar", ressalta.

O projeto foi realizado em parceria entre a produtora portuguesa BRO, fundada por Mário e seu irmão Pedro Patrocínio, e a angolana Da Banda.

Em conversa com a Lusa, Patrocínio revelou ainda que já esteve a visitar o Complexo do Alemão, cenário de seu primeiro filme, que à época das filmagens era tido como uma das áreas mais perigosas do Rio de Janeiro, inteiramente dominado pelo tráfico de drogas.

Três anos após a "pacificação", como o Governo do Rio de Janeiro se refere à operação policial que ocupou o local, em novembro de 2010, o realizador admite pensar em uma continuação da obra, para mostrar a mudança "gigantesca" que pode observar no local.

"Foi uma mudança gigantesca, confesso que um dos nossos sonhos era um Complexo: Universo Paralelo II, mas é preciso dar mais tempo para a comunidade absorver essa nova realidade e ver se tudo o que está sendo investido ali vai realmente dar resultados na vida das pessoas", observa.

O Festival de Cinema do Rio de Janeiro acontece até 10 de outubro, com a exibição de 380 filmes, de mais de 60 países.

 

 

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