E os cabo-verdianos de todo o mundo... uniram-se no choro
Cidade de Praia, 17 dez (Lusa) - Cabo Verde "parece ter desabado, quando o céu caiu" em cima das cabeças de todos os cabo-verdianos, quer no arquipélago quer na diáspora, tal a profusão de comentários e mensagens tristes que circulam nos inúmeros blogues ligados ao país e redes sociais.
A razão é uma só: a morte daquela que ostenta o maior símbolo cultural de um pequeno país arquipélago, em pleno Atlântico, em que Cesária Évora acaba por tornar-se motivo de orgulho para todos.
Nenhum dos vários populares entrevistados hoje à tarde pela Agência Lusa na Cidade da Praia ficou indiferente, assumindo-se, todos, com um luto profundo, como se Cesária Évora fosse uma mãe, uma avó, uma irmã, alguém próximo e querido.
"Sinto-me muito triste. Era uma boa pessoa e eu gostava muito dela", disse à Lusa Cláudia da Cruz, 24 anos, empregada de balcão num estabelecimento comercial da Cidade da Praia, que fez questão de dizer que conhece todas as músicas cantadas pela "Diva dos Pés Descalços".
Tristeza é também o sentimento de Maria do Socorro de Pina, doméstica, de 50 anos, para quem Cesária, além de uma excelente cantora, era um "exemplo de mulher", um "espelho para todas as mulheres cabo-verdianas".
Mais longe foi Daniel Sousa, 80 anos e reformado, para quem a música que imortalizou "Cize", "Sôdade", referência da música cabo-verdiana que exprime o sentimento do Crioulo, "só tem significado na voz de Cesária Évora".
Dos populares aos institucionais, a consternação é também geral. "A «Diva dos Pés Descalços» morreu, mergulhando o país numa profunda dor, pois a perda é irreparável". "Era uma mulher simples, amiga de todos, protetora dos que dela necessitavam, uma autêntica cabo-verdiana que não se deixou levar pela fama",
As palavras do presidente do Parlamento cabo-verdiano, Basílio Ramos, sintetizam, na perfeição, um sentimento generalizado, de perda, de dor e de corrida aos sons da mais conhecida cantora cabo-verdiana do mundo, cuja música percorre hoje as inúmeras rádios, nacionais e locais, e duas televisões de Cabo Verde.
Em vários estabelecimentos comerciais, do mais "nobre", com televisão, ao mais "discreto", com rádio, ouve-se a voz inconfundível de "Cize", como era carinhosamente conhecida, com alguns transeuntes a pararem, quanto mais não seja só para relembrar uma voz que representa, afinal, a "alma" do cabo-verdiano, tal como já disse o ministro da Cultura, Mário Lúcio.
Os elogios são transversais política, social e culturalmente em todo o Cabo Verde e na vasta diáspora, de onde são provenientes milhares de comentários e mensagens, todos tristes, de outros tantos milhares de cabo-verdianos que, através das novas tecnologias, optam assim por partilhar o "choro".
Na parte política, e num comunicado de três parágrafos, o líder do Movimento para a Democracia (MpD), Carlos Veiga, lembra-lhe a "alma cabo-verdiana" e a "grande senhora e cidadã", mulher "simples e sempre preocupada com os problemas do dia-a-dia da sua comunidade, do seu Cabo Verde, que cantou com mestria e alma".
O consenso em torno da dimensão de "Cize", disse um "bloguista" nas redes sociais, só encontra paralelo num acontecimento registado há 36 anos: a independência de Cabo Verde. Mais, ainda assim, há pessoas que continuam com dúvidas sobre se a independência, em 1975, foi a melhor opção.