Lisboa, 22 mai (Lusa) - O fadista Carlos do Carmo afirmou hoje que o pintor Júlio Pomar era alguém "que queria liberdade" e que a morte dele, hoje aos 92 anos, representa "uma amputação para o país".
Em declarações à agência Lusa, entre sessões de gravação em estúdio, Carlos do Carmo disse que era amigo de Júlio Pomar "há uma dúzia de anos": "Ele era uma pessoa muito particular. Nunca ouvi o Júlio queixar-se. Tomou isso como um dever de cidadania. Esteve preso, exilado. O que o Júlio queria era liberdade. Isso era fundamental".
Carlos do Carmo gravou em 2007 no álbum "À noite" dois poemas de Júlio Pomar - "Fado do 112" e "A guitarra e o clarim" - e revelou à Lusa que no próximo disco irá interpretar um fado dele, oferecido há cinco anos.
"O Júlio adorava fado e pertencia àquela geração de esquerda em Portugal que estava contra o fado e depois a adesão dele foi uma coisa fantástica", afirmou Carlos do Carmo, recordando que foi várias vezes com o artista plástico a concertos. "Opinava com toda a frontalidade e com conhecimento".
Para Carlos do Carmo, a morte de Júlio Pomar "é uma amputação, não só como amigo [mas] para o país".
"Perde-se um grande português. É mais um grande português que se vai embora".
Nascido em Lisboa em 1926, Júlio Pomar é considerado um dos criadores de referência da arte moderna e contemporânea portuguesa.
O artista deixa uma obra multifacetada que percorre mais de sete décadas, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo e as viagens, e expressa em pintura, desenho, gravura, escultura tapeçaria ou decoração mural em azulejo.
Não foram ainda divulgadas informações sobre as cerimónias fúnebres.