Edição revista de "O Movimento dos Capitães e o 25 Abril" apresentada em Lisboa
Lisboa, 21 abr (Lusa) - A quinta edição, revista e aumentada, de "O Movimento dos Capitães e o 25 Abril", de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, título editado há cerca de 40 anos, é apresentada na quarta-feira em Lisboa.
O sociólogo Boaventura de Sousa Santos, que assina o prefácio desta nova edição, atesta que a obra, publicada pela primeira vez em setembro de 1974 "mantém intactas as qualidades que fizeram dela um dos livros mais emblemáticos de quantos se publicaram pós-25 de Abril".
Na introdução, os autores dão conta do seu regozijo pelo facto de, até hoje, contando com toda a bibliografia crítica publicada e obras dos operacionais do golpe, nenhum dos acontecimentos historiados [nesta obra] ter sido posto em causa.
Sousa Santos destaca a "escrita veloz, coincidente com o ritmo do tempo", que "fazia do real um romance acrescentado pelo real", e também a investigação e a contextualização feitas pelos autores.
O livro "O Movimento dos Capitães e o 25 Abril" é apresentado na quarta-feira, às 18:30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa, pelo historiador José Pacheco Pereira.
Na obra, os autores traçam a cronologia da preparação do golpe militar que levaria à queda do regime corporativista, desde a contestação ao congresso de combatentes, em junho de 1973, até à revolução, em Abril de 1974, detalhando os movimentos nas então colónias, a influência do livro do general Spínola, "Portugal e o Futuro", a aprovação do programa político elaborado pelo major Melo Antunes, e precisam "a origem de classe dos capitães".
Há também um sub capítulo dedicado à influência da revolução portuguesa em Espanha, "Hoy Portugal. Mañana España". No país vizinho houve "entusiasmo da Esquerda" e "reação de pânico na Extrema-Direita".
Os autores dão conta de movimentos militares dos dois lados da fronteira, com Otelo Saraiva de Carvalho, um dos capitães de Abril, a enviar tropas para as fronteiras de Segura e Elvas, enquanto decorriam exercícios militares na região de Zamora.
Os autores apontam o 25 de Abril, que em "dezassete horas e quarenta e cinco minutos abateu o Estado Novo", como o "dia um de uma nova era".
"São profundas as causas desta queda desamparada" do regime que vivia em agonia, um "Estado apodrecido pela corrupção e incapacidade dos seus mentores", declaram os autores, todos jornalistas.
Boaventura Sousa Santos atesta que esta edição não perdeu a atualidade, nem os seus méritos murcharam, "ao contrário do que eventualmente aconteceu aos cravos" de Abril, e salienta que "é agora um instigante flashback sobre a sociedade de hoje".
"De repente, é como se tivessem passado muito mais do que 40 anos entre a sociedade narrada neste livro e aquela em que nos cabe viver hoje", afirmou.
Referindo-se ao "instigante flashback", Sousa Santos, aponta o facto de o 25 de Abril ser "uma história de grandezas e misérias, mas uma história portuguesa", e de este livro ter sido "escrito por jornalistas para quem o compromisso democrático e as exigências de cidadania faziam parte da deontologia profissional".