"Editora de um homem só" agita meio do rock pesado português

por António Pereira Neves, da Agência LUSA

Um "biscate" a vender camisolas dos Moonspell foi a porta de entrada na música de Daniel Makosch, o responsável da editora Raging Planet, que agitou este ano o meio do rock pesado português.

Responsável por títulos como "Diesel Dog Sound", dos The Temple, ou "How Much Will We Laugh And Smile", dos TwentyInchBurial, a Raging Planet é por enquanto "editora de um homem só", embora Daniel Makosch pretenda "profissionalizar" mais a empresa.

Português filho de pais alemães, um convite para ajudar na banca de venda de "merchandise" numa digressão europeia dos Moonspell foi o primeiro passo para se tornar empresário da maior banda de rock pesado portuguesa e fundar em 2001 a Raging Planet.

Com um catálogo onde pontuam estilos como o punk melódico, o hardcore, o metal e o gótico, os principais critérios de Daniel Makosch têm sido gostar das bandas que contrata e sentir que têm a ver com a identidade da Raging Planet.

"Há cada vez mais bandas com qualidade", tanto na parte musical como na área gráfica ou criação de páginas na Internet, o que garante à partida "um grande apoio" à editora nos lançamentos, disse em entrevista à Agência Lusa.

"Fazer as coisas devagarinho e sem precipitações" faz parte da filosofia, embora Daniel Makosch dê total liberdade às bandas para arriscarem a sua sorte, como recentemente aconteceu com os More Than A Tousand, que emigraram de Setúbal para Oxford, no Reino Unido.

O ano de 2004 foi marcante para a editora, que colocou no mercado discos dos More Than A Thousand, D+Evil Leech Project, For The Glory e EasyWay, embora Daniel Makosch prefira para o futuro lançamentos "melhores e mais espaçados".

Em 2005, a Raging Planet planeia o lançar o disco de estreia dos Cinemuerte já em Janeiro, com produção de Armando Teixeira (Bullet, Bizarra Locomotiva), e prepara dois discos de tributo, um à seminal banda punk norte-americana Misfits e outro aos portugueses Mão Morta, com versões que vão do "a capella" ao metal extremo.

Apesar de as edições terem dado para "cobrir os investimentos", a actividade da Raging Planet não admite deslizes financeiros. Para reduzir custos, as bandas vão juntas em digressão e partilham amplificadores e sistema de som.

Por isso, "as coisas têm que funcionar também a nível pessoal, tem que haver bom ambiente entre as bandas", o que tem sido conseguido, assegura.

Longe do "ruído" que algumas editoras criam às bandas, a Raging Planet "é uma editora com uma visão sólida, em que a única bengala é a qualidade", asseguram os membros dos The Temple, que Daniel Makosch admite serem os "best-sellers" da editora.

"Compensa investir para ter um resultado diferente", afirmou, ressalvando que mesmo praticando uma "política de preço baixo", é difícil pôr os discos à venda nas lojas maiores, que preferem uma margem de lucro mais elevada.

Por isso, recorre-se às lojas mais pequenas e aposta-se nos concertos, que são "o futuro das bandas".

Os discos acabam por ser "um suporte com menos valor do que tinha antes", agindo mais como "um cartão de visita" para cativar espectadores e promotores para os concertos.

O trabalho das bandas e da editora é facilitado se "as bandas tocarem primeiro e se fizerem conhecidas" antes dos discos, apesar de Makosch reconhecer que "para o rock português é muito difícil".

Embora haja público para o rock pesado (como demonstra a afluência de espectadores no dia dedicado a este estilo no Rock In Rio), muita gente vai "pelo circo".

No meio "underground", o "circo" resume-se à música, e embora "haja hoje mais respeito pelas bandas portuguesas", ainda falta o público aderir e aparecer nos concertos, a preços que variam entre os cinco e os dez euros, praticados na digressão que junta The Temple, TwentyInchBurial e For The Glory, que pelo menos uma vez por mês tem levado o som das bandas a diversos pontos do país.

No catálogo da Raging Planet só estão bandas a cantar em inglês, o que traduz a vontade de internacionalização, assente em digressões curtas e contratos de licenciamento dos discos para o estrangeiro, que já levaram o trabalho dos músicos portuguesas à Austrália ou ao Extremo-Oriente.

"Estamos a trabalhar para que a música rock mais extrema tenha aceitação", argumentou Daniel Makosch, que faz questão de não perder a ligação ao meio "underground" onde foi construir o catálogo.

"É a única maneira de fazer as coisas, ir à procura das bandas e vê-las sem os músicos estarem à espera".

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