Editoras tradicionais duvidam das que cobram aos Autores para publicar

As editoras tradicionais têm dúvidas sobre o papel das suas congéneres que aceitam dinheiro dos Autores para lhes publicarem os originais mas estas defendem-se alegando que, se não fossem elas, os desconhecidos não podiam lançar livros.

Agência LUSA /

"Embora tenhamos nomes como Vítor Oliveira Jorge, Salvador Coutinho ou Orlando Castro, também trabalhamos com Autores que só pagando podem publicar, nem que seja um livro para oferecer à família e aos amigos", declarou Liliana Pereira, coordenadora editorial da Papiro, editora nascida em 2005 no Porto.

De acordo com a responsável, "até agora a percentagem de originais recusados é residual, pois a Papiro pretende satisfazer qualquer Autor que pretenda editar, dispondo de uma equipa de coordenadores editoriais e revisores que permitem assegurar o máximo de qualidade às obras".

Com mais de cem títulos no catálogo, entre poesia, crónica, novela, romance, conto, infanto-juvenil e livros técnicos, a editora faz tiragens de 500 exemplares, em que o Autor tem de conseguir a pré- aquisição de 200, dispondo de um departamento de assessoria cultural para ajudar o Autor a procurar um mecenas que assuma os custos da edição.

Neste esquema de publicação, a Papiro tem um método particular: "Se um livro esgotar a primeira tiragem, é a editora que assume os custos da segunda edição, visto o risco aí já ser menor", explicou também Liliana Pereira.

Uma metodologia próxima é seguida pela editora Pena Perfeita, de Leça da Palmeira, Matosinhos.

"Como é raro um Autor desconhecido obter sucesso com a primeira edição, temos de lhe pedir que assegure a compra de parte da primeira tiragem mas se essa primeira edição for bem recebida pelos leitores, a Pena Perfeita assume na totalidade o custo da segunda edição do mesmo livro", revelou Daniel Mota.

Com pouco mais de um ano de existência, a Pena Perfeita edita uma média de quatro livros por mês, "embora receba dezenas de originais por semana", afirmou Daniel Mota, assegurando que "a editora não coloca o seu selo em qualquer obra só porque o Autor pode pagar".

"Temos directores de colecção que analisam as obras e dão pareceres acerca da sua publicação e das hipóteses de êxito no mercado", acrescentou o responsável, segundo quem as obras da editora são colocadas "em pequenas livrarias e em grandes superfícies de todo o País".

Apesar destes argumentos, as editoras ditas tradicionais - que investem o seu capital mesmo em estreantes cujo acolhimento é incerto - expressam reservas face a esta forma de editar.

"A prova de que um novo escritor não tem necessariamente de pagar para editar é a nossa colecção Campo de Estreia, que aposta em Autores que não têm oportunidade junto dos grandes grupos editorais, orientando-se pela qualidade da sua obra" - afirmou Cláudia Abreu, da Campo das Letras, do Porto.

"Não pretendemos julgar ninguém mas o princípio de `quem paga, publica`, não faz parte da nossa forma de estar no mundo da edição", sublinhou.

Também Paulo Loução, editor da Ésquilo, demarcou a sua editora, com sede na capital, desses procedimentos.

"Editar mediante pagamento do Autor não está dentro dos nossos parâmetros, embora respeitemos aqueles que o fazem", considerou, acrescentando temer que este método "seja converter uma editora numa mera gráfica".

"Quando optamos por editar um livro que sabemos não ter mercado para ser rentável, preferimos recorrer a apoios de autarquias ou de outras instituições", acrescentou Paulo Loução.

As edições pagas por uma entidade externa - que não é a editora nem o Autor - são, efectivamente, outro modelo usual para reduzir os riscos.

"Embora não descartemos a possibilidade de o Autor pagar a edição, tentamos encontrar sempre patrocinadores", contou Jorge Fragoso, editor da Palimage, com sede em Viseu e mais de 150 livros publicados desde 1997.

Segundo o responsável, mesmo quando o Autor paga ou é encontrado um apoio, "a obra só sai se fizer sentido na linha editorial da Palimage e tiver sido aprovada pelo conselho de leitura da editora, que reúne membros específicos para cada género literário".

João Artur Pinto, editor da Labirinto, de Fafe, que em seis anos editou 60 livros, afirma ter cautelas semelhantes: "Nunca publicámos obras às custas dos Autores mas, mesmo quando conseguimos a parceria de municípios, o critério principal é a qualidade, pois só assim se respeita o Autor e o público".

Recorrer a apoios institucionais para reduzir o risco que certas obras comportam é prática também da editora Zéfiro, de Corroios, Seixal, que edita cerca de 25 livros por ano, incluindo poesia, teatro e romance.

"Não me choca que um Autor pague para publicar e isso não impede a existência de um crivo editorial mas essa prática não se enquadra na nossa política, pois achamos que não cabe ao Autor suportar a edição", disse à Lusa Alexandre Gabriel, da Zéfiro, para quem "os apoios externos são a solução preferível quando há incerteza em relação às vendas".

Curiosamente, a possibilidade de o Autor auxiliar os custos de edição já chegou ao mundo das novas tecnologias, nomeadamente à Internet.

A editora virtual Arcos Online, de Arcos de Valdevez, tem "critérios como numa editora tradicional e pode recusar-se a publicar certos livros electrónicos (e-books), se a falta de qualidade da escrita for evidente", garantiu Victor Domingos.

De acordo com o editor, "a Arcos Online não cobra nada aos Autores, assim como também não lhes paga direitos mas como o servidor onde os livros digitais ficam alojados tem despesas de manutenção, sugerimos aos Autores que façam um donativo até 50 euros, havendo uns que aceitam e outros que não".

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