Encontrada uma fotografia do amor da juventude de Lenine

por RTP
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Um historiador britânico encontrou nos arquivos russos uma fotografia de Apolinaria Jakubowa, uma professora primária, depois militante socialista, que terá sido o grande amor de juventude do dirigente revolucionário.

O historiador da Queen Mary University of London, Robert Henderson, eufórico com o achado feito nos arquivos russos, declarou ao Spiegel Online: "Tenho a certeza absoluta de que se trata de Jakubowa. O nome dela estava numa nota manuscrita no reverso da fotografia".A "personalidade magnética"
Henderson trabalhava na pesquisa preparatória de uma biografia do revolucionário russo Vladimir Burtsev, que será dado à estampa em 2016. Mas o achado da foto desviou-o, temporariamente, do eixo do seu trabalho e colocou-o no encalço de Apolinaria, mulher que os contemporâneos diziam de uma rara beleza, filha de um padre, estudante de física e matemática em São Petersburgo nos anos 1890 a 1894 e mais tarde professora nessa cidade.

O historiador não resiste a comentar que "a fotografia confirma as recordações dos seus contemporâneos, que atribuem a Jakubowa uma beleza invulgar e uma personalidade forte e magnética".

Jakubowa nasceu em Wologda, em 1870, o mesmo ano de Vladimir Ilitch Ulianov, futuro Lenine. Foi durante os seus estudos em São Petersburgo que conheceu Vladimir Ilitch e Nadeida Konstantinovna Krupskaia, futura mulher do dirigente revolucionário e, também ela, professora. O historiador britânico não se considera em condições de confirmar a lenda segundo a qual Vladimir Ilitch teria proposto casamento a Jakubowa, sendo rejeitado no intento.

Mas reafirma a sua admiração pela personalidade da jovem revolucionária e a sua antipatia pelo dirigente bolchevique, ao afirmar que Jakubowa "deve ter exercido uma atracção mágica mesmo sobre uma pessoa com um coração de pedra", que noutro lugar Henderson refere como "o déspota careca". Apesar do seu "coração de pedra", Lenine tratava Jakubowa pelos diminutivos carinhosos Kubotschka (Кубочка) e Lirotschka (Лирочка).

A própria Nadeida Konstantinovna, mulher de Lenine (na foto), considerava a rival como uma beleza "fantástica, inteligente, serena", com os seus "olhos castanhos cintilantes" que irradiavam uma "força telúrica". E prosseguia, imparável, elogiando o "aroma natural" de Jakubowa, comparável ao de um "pasto verde".

Apolinaria Jakubowa casou em 1899, aderiu ao movimento revolucionário, foi presa e deportada para a Sibéria, e daí conseguiu organizar uma fuga audaciosa, que a levou ao exílio - precisamente em Londres, onde Lenine, com uma história semelhante, fora parar com Kruspkaia. E aí voltaram a manter um contacto assíduo.

No entanto, segundo Henderson, nas discussões internas do movimento socialista russo do início do século XX, Jakubowa terá defendido uma posição mais próxima do espontaneísmo da fracção menchevique ou de Trotsky, do que do centralismo na forma então preconizada por Lenine, no seu famoso livro "Que fazer?".

Em 1908, Jakubowa regressou à Rússia com o seu marido, tendo morrido em algum momento entre 1913 e 1917. Não viveu portanto a revolução e a sua pista perdeu-se relativamente cedo.A "troika": Lenine, Inessa e Nadeida
No exílio, no regresso à Rússia, nos primeiros anos do poder soviético e na doença que havia de vitimá-lo em Janeiro de 1924, Lenine teve sempre Nadeida Konstantinovna a seu lado.

Contudo, uma outra mulher viria a desempenhar um papel importante na sua vida: a pianista franco-russa Inessa Armand (na foto), também ela uma militante revolucionária, e ao contrário de Jakubowa uma discípula de Lenine e empenhada bolchevique.

Inessa Armand partilhou a vida do dirigente russo na fase do seu exílio em Zurique, e é geralmente vista como uma relação assumida e tolerada por Krupskaia.

Em 1917, regresso à Rússia no famoso "vagão blindado" de Lenine. No filme de Damiano Damiani, "O comboio de Lenine", foi representada nessa viagem pela actriz Dominique Sanda. Mas, chegada à Rússia, não ficou em Petrogrado com o núcleo duro do bolchevismo. Morreu antes de Lenine, que alegadamente sofreu um profundo desgosto com essa perda.

Essa relação conhecida de Lenine, e outras especuladas, deram azo a que lhe fosse atribuída uma atitude cruel e displicente para com Nadeida Konstantinovna.

No entanto, um outro episódio parece contradizer esta versão um tanto simplista: o da ruptura de relações pessoais entre Lenine e Estaline, devido à "grosseria" com que este tratara Krupskaia, num telefonema para lhe dar instruções sobre a forma de lidar com a doença do líder bolchevique, já em 1923.

Na carta de ruptura de relações, Lenine explica ao secretário-geral do partido, Joseph Vissarionovich Djugashvili, vulgo "Estaline", que embora Krupskaia se declarasse disposta a perdoar-lhe a referida "grosseria", ele, Lenine, não tencionava esquecer esse agravo que lhe fora feito a ela, porque o considerava como feito a si próprio.
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