"Ensaio sobre a cegueira", um filme aberto e com muitas interpretações - Fernando Meirelles

por © 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Lisboa, 29 Out.(Lusa) - O filme "Ensaio sobre a cegueira", que estreia a 13 de Novembro em Portugal, conta uma história que permite muitas interpretações, tal como acontece com o romance de José Saramago, disse o realizador Fernando Meirelles à agência Lusa.


"Você pode assistir ao filme como um drama político e filosófico, como um drama psicológico, uma história de relacionamento entre personagens. Tem muitas maneiras de entrar na história", disse o realizador brasileiro numa passagem por Lisboa para apresentar o filme.

"Ensaio sobre a cegueira", uma co-produção entre Brasil, Canadá e Japão que se reflecte também na composição do elenco, conta com argumento de Don McKellar a partir do romance homónimo de José Saramago.

A história, passada numa cidade anónima e com personagens sem nome, parte de uma estranha epidemia de cegueira - um mal branco, como lhe chama Saramago - que causa o caos onde antes havia ordem.

Os que ficaram cegos são abandonados em quarentena num antigo asilo e aí têm que sobreviver em grupo, sem regras e sem hierarquias. De todos os que estão cegos só uma pessoa (Julianne Moore) não foi afectada e lidera um motim para abandonar o asilo.

Além de Julianne Moore, do elenco fazem parte Mark Ruffalo, Alice Braga, Gael Garcia Bernal, Don McKellar, Danny Glover, Yusuke Iseya, Yoshino Kimura, entre outros.

Metáfora sobre a crise de valores e a condição humana, a história é sobre o colapso da civilização e foi isso que agradou a Fernando Meirelles.

"Eu me interessei pelo livro pela ideia de queda da civilização, como tudo pode desabar de uma hora para a outra... No processo fui vendo outros filmes dentro do filme. Foi um processo muito rico", disse o realizador.

"Ensaio sobre a cegueira" é a quinta longa-metragem de Fernando Meirelles, de 53 anos, e sucede aos mediáticos "Cidade de Deus" (2002) e "O fiel jardineiro" (2005), nomeados para os Óscares.

Estes dois filmes são dramas com histórias intensas, incómodas e reais, um sobre favelas, outro sobre a indústria farmacêutica, por isso o realizador paulista considerou "Ensaio sobre a cegueira" um trabalho mais subjectivo e solto.

"Eu me permiti flutuar um pouquinho, permiti criar sequências sem diálogos, são só de imagens. É um filme mais subjectivo, mais solto, não é tão encadeado. Foi uma experiência nova para mim", continuou.

"Ensaio sobre a cegueira", que estreia em 25 salas de cinema em Portugal, é o segundo romance de José Saramago a ser adaptado para cinema, depois de "A Jangada de Pedra".

O escritor, que admite a influência do cinema na sua escrita, disse recentemente que o filme lhe causou uma emoção tão forte como a que sentiu quando terminou o romance.

O filme chega a Portugal meio ano depois da primeira apresentação mundial no Festival de Cinema de Cannes, em Maio e depois das estreias nos Estados Unidos e no Brasil.

Nos Estados Unidos o filme foi contestado pela federação norte-americana de cegos, que alegou preconceito contra os invisuais.

No Brasil, superou as expectativas e aproxima-se do milhão de espectadores.

SS.


pub