Escultura de Grada Kilomba será exibida pela primeira vez no maior museu aberto do Brasil

por Lusa

A artista portuguesa Grada Kilomba expõe a obra escultórica, performática e poética "O Barco", a partir de sábado, dia 13, em Inhotim, o maior museu aberto do Brasil, localizado no estado de Minas Gerais. 

Será a primeira vez que essa obra é exposta no Brasil, país em que a artista portuguesa tem ganhado destaque, e onde foi uma das curadoras da 35.ª Bienal de São Paulo (2023), ao lado do espanhol Manuel Borja-Villel e dos brasileiros Diane Lima e Hélio Menezes.

 Em "O Barco" (2021), Grada Kilomba reuniu 134 blocos de madeira queimada que se estendem por 32 metros, dispostos em referência à arquitetura do fundo das embarcações, chamadas popularmente de navios negreiros, que levavam pelo oceano milhões de africanos escravizados até ao Brasil.

Ao longo do deslocamento entre os blocos, o visitante depara-se com um poema escrito por Kilomba e traduzido para seis idiomas: Yorubá, Crioulo de Cabo Verde, Kimbundu, Português, Inglês e Árabe da Síria.

A instalação escultórica será acompanhada, ainda, de três atos de performance. 

No domingo, 14 de abril, acontecerá a performance do primeiro ato com o grupo Ensemble Lisboa, que reúne vozes de gospel e da ópera, percussionistas e bailarinos clássicos, numa apresentação que acontecerá na Galeria Galpão.

"O Barco" foi apresentado pela primeira vez em setembro de 2021 em Lisboa, no âmbito da BoCA - Bienal de Arte Contemporânea. Um ano mais tarde, esteve em exposição na Somerst House, em Londres.

Quando da apresentação em Lisboa, Grada Kilomba explicou que esta obra foi criada como "metáfora para produzir um novo futuro", no qual a História da escravatura "seja contada de forma correta", sem apagar o sofrimento de milhões de pessoas.

Com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, Grada Kilomba tem trabalhado as questões do racismo, do trauma colonial, das vozes silenciadas e de género, e foi uma de cinco criadores convidados a apresentar uma proposta para um memorial da escravatura em Lisboa, concurso que haveria de escolher o artista angolano Kiluanji Kia Henda.

As obras de Kilomba levantam ainda questões sobre o conhecimento, o poder e a violência cíclica, tendo sido exibidas em eventos como a 10.ª Bienal de Berlim, a Documenta 14 de Kassel, a Bienal de Lubumbashi VI, e a 32.ª Bienal de São Paulo, assim como em vários museus e teatros internacionais.

Como suporte para seu trabalho, a artista portuguesa tem escolhido a performance, a leitura cénica, textos, vídeo e instalação, focando-se nos temas da memória, trauma, género e pós-colonialismo, estando representada em coleções públicas e privadas como a da Tate Modern, em Londres.

O museu de Inhotim  tem cerca de 560 obras, de aproximadamente 60 artistas, de 38 países diferentes, além de 24 galerias com obras em exposição, segundo informações divulgadas no `site` da instituição.

Nos 140 hectares que compreendem sua área, os visitantes caminham entre 4,3 mil espécies de plantas de diferentes continentes e um acervo artístico composto por esculturas, instalações, fotografias, pinturas e muitos outros suportes de grandes nomes da arte contemporânea brasileira e internacional.

O museu de Inhotim está localizado numa área de transição entre os biomas brasileiro Mata Atlântica e Cerrado o que, segundo informações divulgadas pela fundação que administra a instituição, permite a exibição permanente de trabalhos em grande escala que, geralmente, não poderiam ser expostos em museus tradicionais.

 

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