Espetáculo "Grito" junta quarta-feira 350 crianças na Praça D. João I, no Porto
Porto, 09 jun (Lusa) - O "Grito", projeto de envolvimento artístico que culmina quarta-feira com 350 crianças dos agrupamentos básicos e do conservatório do Porto no palco da Praça D. João I, conheceu hoje os seus retoques e acordes finais.
O frenesim foi intenso ao longo da tarde. Primeiro, por volta das 15:00, os "carreirinhos" de alunos das várias escolas, cada qual vestida de uma cor, começaram a chegar à Praça D. João I. Lá já "aqueciam" as gargantas e instrumentos os membros da banda do conservatório do Porto.
"Crer", "viver", "voar", "existir", "sentir" ou "viver" - são alguns dos "gritos" que 17 turmas de ensino básico do Porto escolheram entoar no espetáculo artístico coletivo que fecha mais de duas centenas de sessões de formação que desde o início do ano levou às escolas o circo, as artes plásticas, a expressão dramática, a animação de formas, as marionetas, o movimento, o teatro físico e a música.
Beatriz, de 09 anos, da Escola Miosótis, será a primeira a entrar em palco. "Se estou nervosa? Acho que sim?", descreveu à agência Lusa esta tarde, a menos de 24 horas - o "Grito" ouve-se na Praça D. João I às 16:00 em pleno feriado nacional, Dia de Portugal e das Comunidades - do "grande momento".
A esta aluna, ao longo dos meses de formação artística ensinaram, contou, "a fazer marionetas e instrumentos com garrafas, entre outras coisas".
Estes elementos servem para recriar o movimento do rio ou das asas de uma gaivota que voa. No alto da praça estarão pequenos pescadores como que supervisionados por uma figura gigante de anzol em punho. Em baixo barcos de papel "ondulam" na calçada.
Preparado, conforme contou à Lusa, para "seguir todas as indicações do narrador", também Rodrigo (10 anos), aluno da Escola das Flores, explicou que espera "uma grande concentração" de ritmos e sons no dia do espetáculo: "Temos vindo a ensaiar para cada vez sermos melhores", resumiu.
E incutir nos miúdos a vontade de "serem cada vez melhores" é exatamente o desejo do diretor artístico do "Grito", Rui Sousa, formador que acredita que até foram os graúdos quem mais aprenderam com este projeto coletivo.
"Foi fácil ensinar 350 a gritar e também foi fácil de nossa parte aprender com eles. Tivemos meio ano de preparação e eles querem dar o melhor deles. Eles estão com aquele frenesim, querem mostrar tudo", descreveu Rui Sousa, acrescentando que "o Porto pode esperar amanhã [quarta-feira] um espetáculo delicioso, infantil, puro".
Em causa está "quase", explicou, fazer um "novo circo". No início deste projeto, os responsáveis da câmara do Porto, promotora da ideia, falaram em "projeto educativo de cidade". Rui Sousa atira para mais além, lembrando que a apetência para a arte "se torce de pequenino" e em qualquer lugar.
A narrativa do "Grito" baseia-se no ciclo hidrográfico com a água a servir de mote para uma metáfora sobre a vida, e falando em ciclos, e, ainda que balanços fiquem apenas para depois do "Grito" final de quarta-feira, questionado sobre a possibilidade de voltar ao palco com estas ou outras crianças de escolas e bairros portuenses tão diferentes, Rui Sousa tem a certeza que será "apenas uma questão de querer".
"As crianças querem e eles precisam. É mesmo preciso dar-lhes a arte e mostrar-lhes a arte para eles irem dentro deles tirá-la cá para fora. Tem de se instruir o nosso povo. Somos um povo de cultura, embora não tenhamos Ministério, mas é preciso instruir. E de pequenino é que se torce o pepino e nada melhor do que ir lá dar-lhes e retirar-lhes a arte de dentro deles", concluiu.