Espetáculo "Mazurca Fogo" de Pina Bausch criado há 20 anos em Lisboa é recordado em Londres

Lisboa, 26 jan (Lusa) - O espetáculo "Mazurca Fogo", de Pina Bausch, resultado de uma encomenda da Expo98 para o Festival dos Cem Dias, foi criado há vinte anos pela coreógrafa alemã em conjunto com os bailarinos, como a brasileira Regina Advento.

Lusa /

A conceção do espetáculo é hoje recordada no sítio `online` do jornal britânico The Guardian, através de um artigo de Chris Wiegand, que entrevista a bailarina, a propósito da apresentação da peça, em fevereiro próximo, em Londres.

Em 1997, a coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009), que na época desenvolveu vários projetos de espetáculos inspirados em cidades, passou três semanas em Lisboa, com a companhia Tanztheater Wuppertal, que dirigia.

Regina Advento, era, na altura, uma das bailarinas da companhia - onde ainda se mantém - e participou no processo de conceção desta peça, encomendada para a programação de espetáculos da Expo98.

Na entrevista ao The Guardian, recordou que foi um momento especial, porque a Tanztheater Wuppertal tinha acabado recentemente uma digressão pelo Brasil.

Os bailarinos chegaram a Lisboa no verão de 1997 e receberam orientações da coreógrafa para fazerem as suas próprias pesquisas na cidade: "Vão onde os vossos olhos e ouvidos vos levarem, encontrem pessoas e entreguem-se às sensações".

"Éramos livres de escolher o que queríamos ver. Estávamos abertos a tudo, à procura de novas experiências e desafios", recordou Regina Advento.

As peças coreográficas de Pina Bausch - uma fusão de dança e teatro - surgiam habitualmente de um processo criativo conjunto com os bailarinos: memórias, sonhos, observações e confissões, que davam origem a cenas muito pessoais, mas também universais.

Inspirado numa dança cabo-verdiana, "Mazurca Fogo" coloca em palco bailarinos junto ao mar, a apanhar sol, a brincar e a dançar.

Uma das cenas foi criada a partir de uma observação de Regina Advento, de passagem por um mercado, quando viu alguns vendedores ilegais a juntar rapidamente os seus produtos para fugir da polícia.

Outra ideia da bailarina aproveitada para o espetáculo foi colocar uma galinha em palco, mas essa foi retirada de memórias de infância: "Na casa da minha avó, no Brasil, havia sempre galinhas por todo o lado".

O espetáculo, apresentado no ano seguinte em Wupertal e na Expo98, vai ser apresentado em fevereiro em Sadler`s Wells, em Londres, 15 anos após a primeira exibição no Reino Unido.

Atualmente, a bailarina brasileira participa menos em espetáculos, porque está a transmitir a história, trabalho coreográfico e espírito da companhia para os jovens bailarinos que entraram após a morte de Bausch, em 2009.

Um ano antes da morte, a coreógrafa esteve em Portugal para apresentar "Um Festival Pina Bausch", que decorreu no Centro Cultural de Belém e no São Luiz Teatro Municipal, em maio, com espetáculos, filmes sobre a sua obra e conversas com o público.

"Café Müller", uma peça emblemática de Pina Bausch, e também "Nefés" e "Masurca Fogo" foram alguns dos espectáculos interpretados pela Tanztheater Wuppertal, que exibiu igualmente os filmes da coreógrafa "O Lamento da Imperatriz" e "A Sagração da Primavera" e o documentário do realizador Fernando Lopes "Lissabon - Wuppertal - Lisboa".

Gradualmente, novos coreógrafos estão a ser convidados a colaborar com o Tanztheater Wuppertal, na Alemanha, que tem um novo diretor artístico, Adolphe Binder.

A Fundação Pina Bausch também está a dar autorização a outros criadores para apresentar as peças da coreógrafa alemã, como é o caso do English National Ballet, que este ano vai apresentar "The Rite of Spring".

Tópicos
PUB