Estátua de antigo bispo de Braga a segurar báculo que lembra um pénis levanta polémica na cidade

Uma estátua de um antigo bispo de Braga a segurar um báculo com formas que lembram um pénis abriu polémica entre a câmara local, a diocese e a junta de freguesia mas tornou-se numa das atracções turísticas da "cidade dos arcebispos".

Emília Monteiro - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

António Martinez segura o báculo da estátua de D. João Peculiar e sorri enquanto Patrícia, a namorada que veio com ele de Santiago de Compostela até Braga, tira uma fotografia que promete ser motivo de "grandes" gargalhadas entre os amigos.

"O que mais me custa é ver os turistas agarrados à estátua a rir e fazer graçolas", disse à Lusa António Peixoto Santos, presidente da Junta de Freguesia da Cividade, uma localidade no centro da cidade de Braga.

Foi o autarca o primeiro a alertar para a "falta de dignidade" da estátua, colocada há cerca de quatro anos, no Largo de S. Paulo, o principal espaço público da freguesia.

"É uma estátua muito pequenina para o pedestal em que está colocada e com um báculo enorme que é motivo de gozo para toda a gente", disse ainda o presidente da junta.

O báculo (ou bastão) que D. João Peculiar, o arcebispo de Braga que coroou D. Afonso Henriques como primeiro rei de Portugal, segura numa das mãos está no centro de toda a discórdia.

Símbolo característico dos bispos, o báculo da estátua lembra o órgão sexual masculino no entender de António Santos e não escapa ao humor nem dos bracarenses nem dos turistas.

"Incomoda-me ser autarca de uma freguesia que é conhecida pelas anedotas e graças que se contam sobre a estátua", frisou António Santos.

Há um mês o "incómodo" da estátua foi tema de uma reunião entre Mesquita Machado, o presidente da câmara de Braga, e o autarca da Cividade.

No início de Setembro será agendada uma reunião entre o executivo local e o arcebispo primaz de Braga para discutir a retirada da polémica estátua.

Com D. Jorge Ortiga de férias é D. Antónino Dias, bispo auxiliar de Braga, que assume a diocese.

"Todos entendemos a questão da estátua e do báculo", disse o prelado à Lusa.

"É de uma enorme deselegância e não respeita o enquadramento arquitectónico do largo onde está colocada. É uma escultura infeliz", disse ainda o bispo auxiliar.

Com a autarquia e a Igreja de acordo com a "inestética" da estátua, falta saber a quem pertence a obra de arte.

Na reunião entre o presidente da Junta e Mesquita Machado, o autarca socialista terá dito a António Santos que a estátua só poderia ser removida do Largo de S. Paulo depois da autorização dada pelos responsáveis pela diocese bracarense.

Uma responsabilidade que o bispo auxiliar não aceita. "A câmara é que encomendou a escultura e que a pagou. A diocese nunca foi ouvida", disse D. Antonino Dias.

"A câmara é que sabe o que deve fazer à estátua e ao báculo", finaliza o prelado.

Mesquita Machado admitiu não saber quem é o dono da escultura que representa D. João Peculiar. À Lusa disse mesmo não ter tempo a perder "com essas coisas".

Alguém que poderia dizer a quem pertence a estátua é o autor, mas também este é difícil de identificar, já que nenhum dos intervenientes conseguiu dizer quem é o escultor.

Junto à estátua também existia uma placa com informações sobre a obra e o nome do artista, mas as letras em bronze foram arrancadas, pelo que neste momento a estátua não está assinada.

Alheio à polémica, António Martinez sorri para a máquina fotográfica. "É muito fálico. Em Compostela não autorizavam uma coisa destas", disse o turista.


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