Estrutura das grelhas é desadequada aos ritmos sociais das crianças

Lisboa, 24 Mar (Lusa) - A estrutura das grelhas televisivas está desadequada dos ritmos sociais das crianças, conclui um estudo que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) apresenta hoje e a que a Lusa teve acesso.

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"A primeira grande conclusão que é possível identificar, quando se analisa a programação para a infância, aponta para uma manifesta desadequação entre a estrutura das grelhas e os ritmos sociais das crianças", refere o estudo "A Televisão e as crianças - um ano de programação na RTP1, RTP2, SIC e TVI".

De acordo com a análise levada a cabo pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, a pedido da ERC, "quase dois terços" da programação infantil "está ancorada nas manhãs televisivas, precisamente quando a maioria das crianças se encontra a frequentar as instituições educativas".

Em contrapartida, as tardes "estão relativamente desguarnecidas", à excepção da TVI, que exibe ao final da tarde um novo episódio e uma repetição da telenovela "Morangos com Açúcar", e da RTP2.

A investigação questiona ainda a opção da RTP1, que "praticamente esvaziou as suas grelhas de programação para crianças e adolescentes", tendo em conta as disposições do contrato de concessão de serviço público.

O estudo alerta também para o vazio que existe no que diz respeito a programas informativos dirigidos a crianças, em particular na RTP.

"Essa lacuna persiste desde 2002, e o actual contrato de concessão do serviço público impõe essa obrigação ao operador", salienta.

Apesar de o contrato vigorar apenas desde Março de 2008, os investigadores consideram que este "é um dos temas que devem ser escrutinados no futuro próximo da televisão pública".

Os dados analisados levaram a equipa da Universidade do Minho a concluir também que se conhece "ainda pouco e mal a programação oferecida às crianças".

"Atendendo ao estado dos nosso conhecimentos sobre a programação e os programas para crianças, torna-se necessário criar uma agenda comum de debate, que possa inspirar e envolver os diferentes parceiros com interesse e responsabilidade nesta matéria", aconselha o estudo.

O Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho analisou a programação infantil e juvenil emitida pelos canais generalistas portugueses entre Setembro de 2007 e Outubro de 2008.

A monitorização foi feita com base na análise das grelhas de programação e de materiais audimétricos e com suporte no visionamento dos programas.

O estudo é apresentado hoje em Lisboa, no âmbito da conferência "A televisão e as crianças", promovida pela ERC.

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