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Estudo do valor económico-social do património arquitetónico será apresentado em Lisboa

por Lusa

Um estudo sobre o valor económico e social do património arquitetónico, abrangendo todo o país, é apresentado na quarta-feira, em Lisboa, e visa oferecer "um olhar objetivo, no sentido numérico", e "uma leitura económico-social".

A historiadora Catarina Valença, diretora-geral da Spira, empresa especializada na conceção, execução e produção de projetos de revitalização patrimonial, que coordena o projeto, falou à agência Lusa sobre este estudo, que vai ser apresentado na Fundação Millenium, em Lisboa, e ao qual se referiu como "inédito em muitos aspetos".

"O património cultural pode ser gerador de formação qualificada, de uma maior estabilização da população no interior do país, de criação de emprego e de criação de inovação, pois a criação de emprego não é as câmaras municipais fazerem mais contratações, mas antes os jovens criarem empresas de animação turística, de novas tecnologias ligadas à fruição turística, de mediação cultural campos de férias, empresas de conservação e restauro", afirmou.

Segundo Catarina Valença, esta dinamização económica das regiões irá trazer, "entre outros fatores, a fixação das pessoas, a criação de riqueza, e tornar os territórios apelativos para visitar e para a fixação de mais pessoas".

Os resultados preliminares do estudo sobre o valor económico e social do património arquitetónico português são apresentados na quarta-feira de manhã, numa sessão que visa também "recolher opiniões, sugestões, críticas e advertências que a comunidade possa trazer a este instrumento de trabalho, e incluir essas recomendações".

O estudo é financiado pela Fundação Millenium, "o maior mecenas do património cultural em Portugal", e sistematiza, pela primeira vez, todo o património edificado em território nacional, composto por cerca de 30.000 monumentos classificados, adiantou Catarina Valença.

Um dos "aspetos inéditos" do estudo, que pode ser consultado em https://www.valordopatrimonio.pt, é a "inventariação o mais exaustiva possível do património arquitetónico", um trabalho que tem existido em Portugal, "mas que nunca foi devidamente organizado pelas várias instituições".

"O que acabamos por ter é um inventário do património ainda não uniformizado, e uma das primeiras etapas neste estudo é cruzar as várias fontes de inventário que existem, e dizer, de uma forma clara, quantos edifícios inventariados existem e, consequentemente quantos monumentos classificados existem".

Catarina Valença explicou que, em termos de classificação, o estudo considera "monumento nacional", "concelhio" e de "interesse público", referindo que, em alguns casos, como o Complexo Arqueológico de Foz Côa, na Beira Alta, cada gravura rupestre conta como monumento nacional, autonomamente.

"Foz Côa tem assim um índice de monumentos nacionais, que acaba por desvirtuar a própria classificação nacional", acrescentou.

Uma segunda etapa será a distribuição geográfica desses monumentos, "e tentar perceber qual a incidência de património classificado ao longo do território".

Tendo em conta a população residente, as regiões do Alentejo, da Beira Interior, uma parte de Trás-os-Montes e do Alto Minho "têm a maior concentração de património por habitante do país, até mais elevada que Lisboa e Porto".

Porém, em termos de visitantes, a maior concentração encontra-se em Lisboa e Porto, cerca de 40%, disse.

"É muito evidente, através desta análise dos números, que há uma disparidade (no território nacional), e um desperdício da potencialidade da atratividade, nomeadamente turística, de conjunto de património monumental que todos nós herdámos, e que está nas regiões. Não precisamos de construir nada, nem o `shopping`, nem o castelo nem as igrejas. Já lá estão. Temos essa enorme vantagem, há é que ativar tudo isto, económica e socialmente".

Neste sentido, Catarina Valença, que é historiadora de arte, sublinhou que "qualquer valorização do património cultural do ponto de vista turístico - e, se for bem feito, e tendo em conta o que são as tendências do turismo, em que as pessoas procuram autenticidade e contacto com a população local -, obriga a que o próprio território seja o cicerone desses turistas".

"Tem de haver pessoas da região a receber os turistas", enfatizou Catarina Valença, que defendeu a necessidade de "formação na área do turismo cultural" e, desta forma, "dar uma carreira profissional aos jovens", que "podem criar empresas locais e criar valor" e, deste modo, "contribuir para uma melhor e mais harmoniosa distribuição da população pelo país".

A responsável afastou qualquer "perspetiva capitalista ou meramente económica" deste projeto, mas antes "adicionar um olhar económico-social ao olhar cultural".

Catarina Valença referiu-se ao património cultural como um "recurso que está equitativamente distribuído pelo país, quer do ponto de vista de quantidade, quer do de qualidade, e de atratividade, mas não há nesses territórios a adaptação a este recurso".

Para a responsável, é necessário criar nas diferentes regiões "as condições necessárias, como formar um olhar e uma perspetiva económica sobre esse património".

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