Evan Roth coloca tecnologia e pintura de paisagem em diálogo em Lisboa e Porto
O artista norte-americano Evan Roth vai inaugurar, hoje, em Lisboa, e no Porto, em junho, duas versões de uma exposição que coloca em diálogo a pintura de paisagem do século XIX e as tecnologias de comunicação.
"Red Lines with Landscapes: Portugal", que é inaugurada hoje, na Fidelidade Arte -- e que abre ao público na sexta-feira --, antes de seguir em junho para a Culturgest no Porto, coloca em diálogo uma série de filmagens que Roth fez a partir das ligações subaquáticas entre continentes, com imagens da costa portuguesa, com cerca de 15 obras de pintores portugueses do século XIX.
Entre eles estão nomes como Tomás da Anunciação, Aurélia de Sousa, Silva Pinto, Marques da Silva e António Carneiro, a partir de obras requisitadas ao Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, na interação lisboeta, e peças ainda por escolher, pelo artista, no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.
Convidado no âmbito do ciclo "Reação em Cadeia", que neste momento tem exposto no Porto Elisa Strinna (depois de Ângela Ferreira e Jimmie Durham), Roth apresenta uma série de trabalhos filmados com câmaras de infravermelhos, "o que deixa as imagens com um tom muito particular, quase [como] `fotografias-sépia`", num tom avermelhado, ainda que o pouco movimento `traia` a perceção dos filmes.
"Muitas vezes somos surpreendidos com uma árvore que mexe ou um pássaro que levanta voo. Depois, relaciona-se com a pintura de paisagem", explica à Lusa o curador da mostra, Delfim Sardo.
O norte-americano pegou numa investigação sobre a transmissão física de informação por via subaquática, mostrando que este trabalho tem uma componente física e não está "só na nuvem", e juntou-a a um trabalho sobre zonas costeiras que já passou por vários pontos na Europa, mas também por países como a Argentina e a Austrália.
"O que filma não são os cabos, mas antes a paisagem desses sítios, a paisagem marítima", esclarece o curador.
Surgiu então um contacto com o Museu do Chiado, de onde foram selecionadas as pinturas, aqui instaladas. "Em relação com os filmes, há [formam] uma espécie de dípticos, ou grandes painéis", com o objetivo de chegar a "um cruzamento entre tradição e contemporaneidade, entre pintura de paisagem e tecnologia completamente contemporânea, e falar da transmissão de informação", disse Delfim Sardo à Lusa.
Ao dialogar processos tecnológicos contemporâneos com a "grande tradição de arte" que surge do "facto tão simples de olhar para o mundo e tentar representá-lo", Evan Roth vai trabalhando uma conversa, "que é o mais sedutor para o público", além de refletir sobre a fisicalidade da Internet.
"O que temos é este confronto, entre a modernidade, a comunicação, o chegar ao Outro e a ideia de rede, e a tradição de olhar para o mundo e tentar perceber o seu mistério", resume Delfim Sardo.
O artista é "um lutador pela livre utilização de imagens" na Internet, algo em que tem trabalhado a nível académico, e por isso disponibilizou uma aplicação, cujas instruções para descarregar no telemóvel ou `tablet` podem ser encontradas no espaço expositivo.
Nessa `app`, estão disponibilizados os filmes, que os utilizadores assistem "em simultâneo", mas também para serem descarregados e utilizados como fundo "no `tablet`, telemóvel ou computador".
A mostra tem ainda uma componente de "reinvenção completa", assim que se mudar para o Porto, não só pelo "espaço muito diferente" da Culturgest, em relação à sala onde a partir de sexta-feira pode ser vista, em Lisboa, como pela escolha das obras de pintura a serem utilizadas.
A exposição "Red Lines with Landscapes: Portugal" vai estar patente em Lisboa até 22 de maio, com uma versão inaugurada no Porto em 05 de junho, altura em que se inicia a mostra da próxima artista do ciclo "Reação em Cadeia", Alicia Kopf, na capital, onde ficará patente até setembro.
Nascido no Michigan, em 1978, Evan Roth tem trabalhado entre a instalação vídeo e a conceção de projetos para a Internet, com obras na coleção permanente do Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque.
Expôs na Smithsonian Gallery, em Washington, no Museu de Chicago, na Bienal de Sydney, no próprio MoMA e na Bienal de Estrasburgo, entre outros locais, e fundou o coletivo Free Art & Technology Lab, no qual expande a investigação sobre arte e tecnologia, além do Graffiti Research Lab, dedicado a arte urbana.
Formado em arquitetura, pela Universidade de Maryland, Evan Roth acabou por prosseguir os estudos na área de design e da tecnologia, estando atualmente a trabalhar desde Paris, tendo arrancado com o projeto "Red Lines With Landscapes", em 2014.