Êxodo prossegue projeto de nova tradução da Bíblia iniciado em 2012

A necessidade de fazer uma revisão das traduções dos textos bíblicos usadas na liturgia levou, em 2012, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a lançar o projeto de tradução dos livros da Bíblia, tarefa que deverá estar concluída em 2024.

Lusa /

Depois de, em janeiro de 2019, ter sido publicado o volume "Os Quatro Evangelhos e os Salmos", no próximo mês de agosto, mas agora só em edição `online`, será dada a conhecer a nova tradução do livro do Êxodo, e em setembro a Primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios.

Segundo o padre Mário Sousa, coordenador da Comissão da Tradução da Bíblia para a CEP - substituiu nas funções o então bispo de Viana do Castelo, Anacleto Oliveira, que morreu num acidente de viação em setembro de 2020 -, o objetivo é disponibilizar `online` "um livro no início de cada mês, alternando entre os livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento". Para já, estão em revisão para divulgação, 35 livros.

Com esta publicação `online`, a Comissão espera receber contributos do público, por forma a dotar cada um dos livros de maior compreensibilidade no texto final.

"O projeto prevê que cada livro seja mantido `online` para recolha de contributos durante dois meses, de maneira a não estender no tempo a atenção dedicada a cada livro e, por outro lado, a permitir a concentração das atenções e da leitura no livro que é disponibilizado em cada mês. No entanto, é possível receber contributos e considerá-los até à publicação definitiva da Bíblia", acrescentou o padre Mário Sousa à agência Lusa.

A CEP abalançou-se neste projeto, com a meta de chegar a "uma nova tradução para uso oficial da Igreja Católica em Portugal e, futuramente, nos outros Países Lusófonos em que se segue a tradução portuguesa dos livros litúrgicos -- Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor", referia a introdução do então bispo Anacleto Oliveira ao volume "Os Quatro Evangelhos e os Salmos", editado em janeiro de 2019.

O padre Mário Sousa especificou à Lusa que esta é uma resposta, "por um lado, à necessidade há muito sentida de fazer uma revisão das traduções dos textos bíblicos usadas na liturgia, que apresentam omissões, imprecisões e até erros de tradução; por outro, à recomendação da Santa Sé de que a tradução litúrgica abranja toda a Sagrada Escritura (o que neste momento não acontece, pois só estão traduzidos os textos usados na liturgia), de modo a que possa ser utilizada em todos as dimensões da vida eclesial (liturgia, catequese, pastoral caritativa, documentos oficiais de Igreja, etc.)".

O coordenador da Comissão adiantou que a tradução segue dois critérios fundamentais: "ser literal, ou seja, transmitir o melhor possível o que os textos exprimem nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), para o que procura ter presente não apenas o texto e o mundo do texto, mas também o mundo por detrás do texto (por exemplo: o Novo Testamento foi escrito em grego, mas a estrutura mental do autor bíblico não é grega, mas semita, pelo que, embora as palavras sejam gregas, o seu conteúdo tem muito mais a ver com o pensamento hebraico do que com o grego), e, ao mesmo tempo, compreensível para os leitores e, sobretudo, ouvintes de hoje, visto tratar-se de um texto que também se destina a ser proclamado".

Tarefa de grande fôlego, envolve 34 biblistas da Associação Bíblica Portuguesa e de países de língua oficial portuguesa, nomeadamente Brasil, Angola e Moçambique. A tradução do Novo Testamento deverá ficar concluída já no próximo ano, e a do Antigo Testamento em 2024.

"O processo é moroso, porque passa por uma série de intervenientes: a tradução de cada livro é feita por um biblista perito no livro -- que a faz acompanhar de uma introdução e notas explicativas -- e revista pela Subcomissão Científica respetiva (do Antigo Testamento ou do Novo Testamento), que procura harmonizar as traduções (para que, por exemplo, nas cartas de Paulo, traduzidas por biblistas diferentes, o mesmo termo seja traduzido sempre da mesma maneira)", explicou o padre Mário Sousa.

Segundo este especialista, "de seguida, o resultado é revisto sob os pontos de vista literário e litúrgico por especialistas nas disciplinas correspondentes. Mas mesmo assim, pode acontecer que o texto final seja compreensível para todos estes intervenientes, mas não para o leitor a quem o livro se destina".

"Ora, se a Bíblia contém a Palavra de Deus, é necessário que ela seja compreensível, sob pena de Deus não conseguir, através dela, falar aos homens de hoje. Por isso, considerou-se importante auscultar as pessoas acerca da tradução produzida, de modo a que, pelos seus contributos, possamos levar a tradução à melhor compreensibilidade possível", acrescentou.

Neste contexto, os leitores podem fazer chegar à Comissão, através do email biblia.cep@gmail.com, "as achegas que considerem importantes para atingir aquele objetivo". O leitor "poderá não saber grego nem hebraico para opinar sobre a tradução em si, mas tem a sensibilidade para dizer, por exemplo, que determinada expressão não se entende e que será melhor procurar uma melhor forma de a traduzir".

O envolvimento do destinatário no processo de preparação desta edição é, assim, uma das inovações do projeto.

Mário Sousa, professor de Novo Testamento no Instituto Superior de Teologia de Évora, diretor do Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve e presidente Associação Bíblica Portuguesa desde 2017, lidera a Comissão Coordenadora da Tradução da Bíblia para a Conferência Episcopal Portuguesa. A Subcomissão Científica do Antigo Testamento é constituída por José Augusto Ramos (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), Armindo Vaz e Luísa Almendra (Faculdade de Teologia da Universidade Católica-Lisboa), e a Subcomissão do Novo Testamento integra o próprio Mário Sousa, além de Pedro Falcão (Faculdade de Teologia da Universidade Católica-Lisboa) e José Carlos Carvalho (Faculdade de Teologia da Universidade Católica-Porto).

O volume "Os Quatro Evangelhos e os Salmos" está disponível em http://conferenciaepiscopal.pt/biblia, onde deverão ser disponibilizados também os próximos livros.

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