"África e Africanias - Espíritos e Universos Cruzados" traz esculturas e pinturas de autoria do artista e de sua colecção, numa colectânea especialmente seleccionada pelo comissário da exposição Emanuel Araújo.

"São peças com bastante força, em geral da década de 70, durante o meu período africano, que têm grandes afinidades com as raízes da cultura brasileira ", afirmou o artista à agência Lusa.

"São peças de uma grande curiosidade, para além do lado mágico, com poder de expressão inconcebível, uma vez que a arte africana está na raiz da arte contemporânea", salientou o artista.

José de Guimarães acredita que a exposição despertará uma grande curiosidade do público brasileiro, "uma vez que foi solicitada, não há propriamente uma imposição, um colonialismo cultural".

A exposição foi proposta pelo comissário, que também é director do Museu Afro Brasil, localizado no Parque do Ibirapuera, o mais importante da cidade de São Paulo.

As peças são de diferentes países africanos, nomeadamente do Reino de Benim, actual Nigéria, Burkina Faso, Camarões, Libéria, Gabão, Mali, República do Congo, Serra Leoa, Guiné, Costa do Marfim, Moçambique e de Angola.

O painel de abertura com todo o alfabeto criado pelo artista português, em 1974, a partir de códigos africanos, e pela primeira vez exibido ao público, marca a exposição.

"Posso dizer que a grande transformação na minha pintura de seu após o entendimento da arte africana. Transformação, esta, talvez, mais de conteúdo do que de forma, mas que não exclui a forma", disse.

O comissário da mostra Emanoel Araújo salientou que há muitos anos procurava uma colecção de arte africana "desvinculada do olhar puramente científico e antropológico".

"Um dia encontrei no ateliê de José de Guimarães essa selecta de obras artísticas africanas que, de certa maneira, cruza o seu olhar, a sua estética de criador e a influência que essas obras imprimem ao seu criar quotidiano", disse .

"Quando invocamos a expressão `espíritos e universos cruzados` trata, a ssim, de mostrar como um artista europeu que viveu por anos em África sofreu as influências da criação ancestral daquele povo", realçou o comissário.

O Cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Luís Barreira de Sousa, salientou que essa exposição encerra um período de 30 meses, iniciado em Novembro de 2003, durante os quais São Paulo acolheu 12 grandes exposições oficiais de artes plásticas portuguesas.

"Tive o imenso prazer de testemunhar por dentro essa demonstração de interesse pelos artistas e acervos do meu país, certamente a maior de qualquer cidade no mundo, a que corresponde, aliás, um movimento paralelo em Portugal de curiosidade crescente pelas artes plásticas brasileiras", disse.

A mostra ficará patente ao público brasileiro até 10 de Setembro, quando deverá então ser levada para Pequim, em 2007, juntamente com outras obras do artista, sobretudo esculturas com néon.

José Maria Fernandes Marques, que adoptou o nome de Guimarães, cidade onde nasceu, apresentou suas obras pela primeira vez no Brasil, em 1959, durante a 5ª Bienal de Arte Moderna de São Paulo.

Actualmente, é um dos artistas plásticos portugueses contemporâneos mais conhecidos do público brasileiro.

No início de 2005, uma segunda exposição do artista, com 44 obras, desde os anos 70 até a actualidade, recebeu cerca de 50 mil visitantes, um dos maiores públicos já registados pela galeria onde a mostra foi apresentada.

Dois painéis gigantes sobre a guerra do Iraque e o atentado terrorista de 11 de Março de 2004 na estação de comboios de Atocha, em Madrid, marcaram a exposição "O Imaginário de José de Guimarães".

A exposição "África e Africanias - Espíritos e Universos Cruzados" tem o apoio de empresas portuguesas, nomeadamente da Energias do Brasil, subsidiária da EDP, e da Galp Energia.

A abertura dessa mostra insere-se num conjunto de actividades que decorreu nos últimos dias em São Paulo, desde encontros empresariais luso-brasileiros até o lançamento do guia especial Veja Lisboa.

No dia 22 de Junho, o artista plástico português participará da abertura de uma outra exposição na Casa da Cerca, em Almada, por ocasião do Festiva de Teatro.

José de Guimarães salientou que a mostra "Africania" apresentará peças recentes de néon e outras obras também inspiradas em temas africanos.