Exposição com inéditos do pintor Mário Eloy, do seu filho e neto vai abrir em Setúbal

por Lusa

Uma exposição com obras de Mário Eloy e do filho e do neto do pintor modernista, os também artistas Mário Eloy e Sérgio Eloy, algumas das quais inéditas, vai ser inaugurada no sábado, na Galeria Municipal do 11 em Setúbal.

Intitulada "Uma família de artistas no século XX em Portugal: Mário Eloy (pai), Mário Eloy (filho), Sérgio Eloy -- Pintura e Fotografia", a mostra pretende dar a conhecer o trabalho inédito ou pouco conhecido de Mário Eloy e dos seus descendentes, um dos mais significativos pintores modernistas portugueses.

Entre as obras a expor estão um autorretrato de Mário Eloy pai, de 1927, criado em Paris, proveniente do Museu de Setúbal/Convento de Jesus, e várias obras de pintura de Mário Eloy filho, criadas nos anos 1950 e 1960, bem como fotografia de Sérgio Eloy, neto, todas elas pertencentes à Coleção Maria Orquídea Graça Almeida Gonçalves.

Mário Eloy pai (1900-1951) e Mário Eloy filho (1929-1977) dedicaram-se à pintura, enquanto Sérgio Eloy, neto (1959-2004), à fotografia, tendo todos eles marcado a evolução do expressionismo à abstração, em Portugal.

As obras expostas revelam um percurso que passa pelo simbolismo, o modernismo, o expressionismo, o gestualismo e o abstracionismo, marcando o trabalho destas três gerações de artistas, cuja vida foi definida pela hereditariedade de uma doença degenerativa rara e incapacitante, Doença de Huntington (ou Coreia de Huntington), que permanece sem cura.

Mário Eloy estudou na Escola de Belas-Artes de Lisboa, mas abandonou o curso depois de dois anos, por lhe desagradar o ensino demasiado classicista, tornando-se sobretudo um autodidata, como aconteceu com Amadeo de Souza-Cardoso, Carlos Botelho, Almada Negreiros, entre outros.

Na década de 1920, viveu em Paris e Berlim, contactando com os protagonistas da época. Regressou a Lisboa, em 1932, atingindo então o apogeu artístico, num percurso de matriz expressionista, "dominado pelas inquietações pessoais e com propostas estéticas radicais que o singularizam na arte portuguesa da época", como destaca a apresentação da exposição "Uma família de artistas".

A condição de saúde agravou-se ao longo da década de 1940, acabando por morrer após seis anos de internamento na Casa de Saúde do Telhal, em Lisboa.

Foi um dos artistas mais importantes da primeira metade do século XX, estando representado em coleções como a do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, na Fundação da Casa de Serralves, entre outras coleções públicas e particulares.

Mário Eloy, filho, nasceu em Berlim, em 1929, e fixou-se com a mãe, nos Países Baixos, após a ascensão nazi, na Alemanha. No país de refúgio, que acabou por ser ocupado pelas forças de Hitler, durante a II Guerra Mundial, conseguiu a família "sobreviver a um período de cinco anos de verdadeiro terror".

Terminada a guerra, Mario Eloy, filho, frequentou a Escola Alemã de Haia e a Academia Livre da cidade, na perspetiva de uma carreira de ceramista, que acabou por trocar pela pintura. Viajou pela Europa do pós-guerra, e fixou-se em Portugal, onde nasceu o filho, Mário Sérgio Graça Eloy, e obteve apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Com o avanço da doença, regressou a Haia, à procura de apoio, acabando por morrer em 1977.

Deixou "uma obra profundamente original e presente em várias instituições oficiais holandesas, que parte das derivações expressionistas que tinham entusiasmado o seu pai e anunciam uma clara obsessão pela matéria, que também fascinará a obra fotográfica de seu filho", lê-se na apresentação da mostra.

Sérgio Eloy nasceu em Lisboa, em 1959. Interessou-se pela fotografia, frequentou o IADE, a partir de 1973, e foi bolseiro da Gulbenkian, durante vários anos, desde 1985. Participou na I Bienal dos Açores, conquistou o Prémio de Fotografia na III Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, expôs com regularidade em várias instituições, incluindo o Museu Espanhol de Arte Contemporânea, em Madrid, nos anos de 1980 e primeiros de 1990.

Em 1994, na tentativa de evitar as piores consequências da doença, submeteu-se a uma cirurgia, que foi malsucedida. Acabou por morrer dez anos mais tarde.

Deixou "uma obra fotográfica influenciada pelo inovador expressionismo abstrato inaugurado por seu pai, trinta anos antes, e assente na abstração fotográfica através da exploração de microtexturas de cores e formas", traduzindo "signos ou marcas da inexorável passagem do tempo em superfícies intervencionadas" pela ação humana.

A exposição "Uma família de artistas no século XX em Portugal: Mário Eloy (pai), Mário Eloy (filho), Sérgio Eloy -- Pintura e Fotografia", com inauguração prevista para as 16:00, do próximo sábado, tem curadoria de Fernando António Baptista Pereira, historiador de arte, professor e presidente da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e cocuradoria do artista José Matos Cardoso.

Tópicos
pub