O cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, incluindo um filme recém-descoberto, é o foco da exposição "Na cratera do vulcão", que abre ao público na quinta-feira na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves, no Porto.
A exposição, que revela excertos de filmes e fotogramas, incide sobre "o questionamento da relação do Homem com a natureza" e sobre aquilo a que Jean-Marie Straub designava de "comunismo utópico", em particular depois do filme "A Morte de Empédocles" (1986), explicou à agência Lusa o curador, António Preto.
"Na cratera do vulcão" é apresentada como a primeira exposição em Portugal dedicada aos realizadores franceses Jean-Marie Straub (1933-2022) e Danièle Huillet (1936-2006), cuja obra é, segundo a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, "um exemplo expressivo de um cinema verdadeiramente interlinguístico, transnacional e pan-europeu".
Da exposição, António Preto sublinha a inclusão de "Hommage a Vernon" (1988), um filme recentemente descoberto no espaço cultural Arsenal em Berlim, onde Straub o tinha depositado.
"Ninguém sabia desse filme. Em 2017, na preparação de uma exposição em Berlim, descobriu-se que havia um filme depositado no Arsenal. Vamos ter a primeira apresentação pública em Portugal", disse o curador.
Outra das particularidades da exposição é a proposta de "um possível diálogo entre a obra dos Straub e de Manoel de Oliveira", refere António Prieto, citando pontos de contacto entre o trabalho dos três autores, nomeadamente o respeito pela palavra e pelo espectador.
A par da exposição, que ficará patente até 31 de março de 2024 naquele espaço em Serralves, haverá um programa paralelo de conferências e um ciclo de cinema, o mais completo desde a morte de Jean-Marie Straub, em novembro passado na Suíça.
Todas as sessões previstas terão uma apresentação com convidados, como por exemplo, a de 01 de outubro, com o encenador Luís Miguel Cintra a falar sobre "Os olhos não querem estar sempre fechados ou talvez um dia Roma se permita escolher por sua vez (Othon)" (1969).
Haverá ainda filmes que se relacionam ou abordam o trabalho de Straub-Huillet, como "Onde jazz o teu sorriso?" (2001) e "6 Bagatelas" (2001), ambos de Pedro Costa.
As conferências já anunciadas contam com os críticos António Guerreiro e Bernard Eisenschitz, a ensaísta Maria Filomena Molder, o realizador Pedro Costa e com o curador António Preto, diretor da Casa Manoel de Oliveira.
Será editado um livro com ensaios de António Preto, António Guerreiro, Maria Filomena Molder e Ute Holl, e textos de Barbara Ulrich Straub e Santos Zunzunegui.