Exposição sobre Fernando Farinha revela um dos maiores criadores fadistas
A exposição "A voz mais portuguesa de Portugal", a inaugurar em junho, em Lisboa, pretende "revelar Fernando Farinha, que foi um dos maiores criadores fadistas", que, além de intérprete, foi letrista, compositor e caricaturista, disse à Lusa fonte da organização.
"O título da exposição, [resgatámo-lo] de um dos prémios que Fernando Farinha ganhou, em 1957, numa votação organizada pela Rádio Peninsular", disse à Lusa Julieta Estrela de Castro, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), depositária do espólio do fadista, que morreu em fevereiro de 1988, depois de "uma carreira ímpar de mais de 50 anos".
"Para nós, e dado que não temos um espaço concreto, é essencial mostrar e abrir um debate sobre uma das mais fulgurantes carreiras da música ligeira portuguesa", disse Julieta Estrela de Castro, que realçou "a necessidade de se estudar mais as fontes sobre a história fadista, havendo muito quem retome informações dadas como certas, sem indagar ou questionar".
A responsável disse à Lusa que "é essencial, nas investigações fadistas, cruzar-se dados, questionar, pois, muitas vezes, até os próprios se enganam sobre si, ou não dão os dados certos".
A APAF, sublinhou a sua presidente, "desde há 20 anos que tem desbravado terreno nestas áreas: a da investigação e, paralelamente, a da divulgação".
A exposição que é inaugurada no dia 01 de junho, no Espaço Santa Catarina, instalado no Palácio Cabral, à calçada do Combro, em Lisboa, conta com o apoio da Junta de Freguesia da Misericórdia, que abrange o bairro da Bica, onde Farinha viveu, da infância à idade adulta, tendo aliás ficado conhecido por o "miúdo da Bica".
A exposição está a ser organizada "apenas com os meios da APAF, sem quaisquer apoios financeiros de outras entidades, mas muitas boas vontades, de instituições e associados".
Para esta exposição, a APAF conta com a parceria da Fundação Manuel Simões (FMS), com quem já colaborou em 2014, na edição da primeira biografia do fadista Manuel Fernandes (1921-1994), "Manuel Fernandes, uma história por contar".
"Esta exposição revela um fadista do qual nos vamos esquecendo, mas incontornável na história do fado, e um dos objetivos da Fundação é a divulgação do fado, e contribuir para o seu melhor conhecimento", referiu a presidente da FMS, Rosa Amélia Piegudo.
"Esta exposição vai contar uma história de vida e, entre outros inéditos, revela a faceta de caricaturista de Fernando Farinha, algo que a maioria de nós desconhecia por completo", enfatizou Rosa Amélia Piegudo.
A vida do fadista originou o filme "O miúdo da Bica" (1963), realizado por Constantino Esteves, protagonizado por Fernando Farinha, que voltou a filmar com Esteves, em "A última pega" (1964).
A exposição inclui fotografias, algumas inéditas, cartazes, recortes de jornais, caricaturas, entre outra documentação e, paralelamente, serão desenvolvidas várias atividades paralelas, sobre a carreira do único fadista que venceu o concurso de "Rei da Rádio", em 1962, entre outros galardões.
"Fernando Farinha tornou-se um fenómeno, não tinha mãos a medir dadas tantas solicitações, [era] um sucesso que as vendas de discos confirmavam, justificando o elevado número de gravações que efetuou. O seu público era absolutamente transversal, quer em termos etários, quer sociais. Foi, efetivamente, dos artistas com mais nome e dos mais estimados pelo público", disse à Lusa Luís de Castro, autor de um biografia do fadista, que será publicada em junho.