Festival dedicado às culturas afro-crioulas nasce em Cabo Verde

Um festival dedicado às culturas afro-crioulas nasce segunda-feira em Cabo Verde, com atividades agendadas para a Cidade Velha, berço da nação, e a cidade da Praia, com a ambição de ligar outras cidades africanas.

Lusa /

"Quisemos trazer um conceito pós-moderno, vanguardista e futurista que cria um produto cultural", com potencial para vir a ligar "mais de 50 cidades" com uma história partilhada, disse à Lusa o sociólogo e promotor do evento, Nardi Sousa.

Idealizado há vários anos durante o seu doutoramento sobre a diáspora cabo-verdiana em Angola, o Festival Internacional das Africanidades da Krioulidade e das Cidades Afro-Krioulas (Fiack) realiza-se de 01 a 07 de dezembro e arranca, para já, na Cidade Velha e na Praia com um programa que inclui `performances` artísticas, exposições, feiras de artesanato, mostras de gastronomia de diferentes países, cinema para crianças, aulas de capoeira, encontros com artistas e debates sobre justiça climática, pan-africanismo, democracia, género e língua cabo-verdiana.

Um dos destaques é o Festival Internacional de Literatura Afro-Crioula e Histórica, a 05 e 06 de dezembro, na Cidade Velha, onde escritores imigrantes vão apresentar contos em línguas estrangeiras como yorubá (Nigéria), igbo (Nigéria), wolof (Senegal), lingala (República Democrática do Congo), kikongo (República Democrática do Congo), bambará (Mali), fula e mandinga (Guiné-Bissau) - idiomas que "influenciaram a formação da língua cabo-verdiana".

"Queremos valorizá-la como produto de dimensões culturais importantes, de diversidade, de criação", afirmou.

Apesar do orçamento reduzido, o festival conta com participantes de países africanos e do Brasil e envolve instituições de ensino e comunidades locais.

O projeto é organizado em parceria com as câmaras da Ribeira Grande de Santiago e da cidade da Praia, juntamente com o Ministério da Cultura e uma associação local.

Nardi Sousa destacou a "valorização da herança afrodescendente e diaspórica", bem como o contributo para "dar visibilidade às comunidades que estão no arquipélago e criar uma agenda" para ligar diferentes cidades.

"A Cidade Velha é o berço da cabo-verdianidade, foi importante no passado, tem muitos segredos interessantes que não estão ser muito bem promovidos culturalmente", acrescentou.

O festival pretende ainda alinhar-se com iniciativas internacionais como a Década Internacional dos Afrodescendentes, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) e a Agenda 2063 da União Africana, valorizando a identidade cultural, memória histórica e criação contemporânea.

Nardi Sousa defende ainda que o Fiack vai "além do entretenimento", integrando educação, resgate cultural e cooperação entre comunidades afrodescendentes.

Tópicos
PUB