Filme que ridiculariza Hitler gera celeuma antes da estreia
O filme "Mein Fuehrer", do realizador suíço Dani Levy, que ridiculariza a figura do ditador nazi Adolf Hitler, tem gerado alguma celeuma na Alemanha, mesmo antes da sua estreia, marcada para quinta-feira.
Hitler, protagonizado pelo comediante Helge Schneider, aparece a brincar na banheira com um navio de guerra de plástico, de pijama e em fato de treino, e mostra-se impotente numa cena de sexo com Eva Braun.
"Eu não o sinto, mein Fuehrer", diz na referida cena a amante de Hitler, que viria a casar com o chefe nazi no Bunker de Berlim, momentos antes de ambos se suicidarem.
O cenário são os derradeiros meses da II Guerra Mundial, em finais de 1944, quando, face ao avanço das tropas aliadas, a desmoralização começa a apoderar-se de Hitler.
Para tentar superar a depressão do seu chefe, os conselheiros do ditador resolvem então ir buscar um professor de dicção judeu a um campo de concentração nazi, para que Hitler possa fazer de novo um discurso arrebatador ao povo alemão.
O professor, Adolf Gruenbaum, interpretado por um dos mais consagrados actores alemães, Ulrich Muehe, depressa se transforma, no entanto, num psicólogo com influência cada vez maior sobre Hitler, que já não quer prescindir do "seu judeu", enquanto o Estado-Maior nazi tenta arranjar maneira de se ver livre dele.
Trata-se do primeiro filme após 1945 em que o Fuehrer é uma figura lamentável, apesar de Hitler já ter sido satirizado por grandes realizadores como Charlie Chaplin, em "O Grande Ditador", ou Ernst Lubitsch, em "Ser ou não Ser", anos mais tarde pretexto para um "remake" de Mel Brooks.
É tudo ficção, embora Levy, quando se refere ao complexo de Édipo de Hitler, se tenha apoiado na obra "Am Anfang war die Erziehung" (Tudo Começou pela Educação) da psicanalista suíça Alice Miller, que descreve, nomeadamente, os maus tratos a que Hitler foi sujeito pelo pai, na sua infância.
A história do professor de dicção também não é totalmente inventada, porque na campanha eleitoral de 1932 Hitler recorreu, de facto, ao cantor de ópera e professor Paul Devrient, para articular melhor os seus discursos.
Porém, é apenas uma comédia, pouco adequada para debater questões como a culpa e a autonomia de um indivíduo, ou os crimes dos ditadores e a responsabilidade de toda a sociedade, como sublinhou já a maioria dos críticos alemães.
No entanto, o escritor judeu Ralph Giordano manifestou receios de que o filme "sirva para transformar Hitler numa figura humorística, apesar de os 15 milhões de mortos que ele causou não serem motivo para rir".
O realizador Dani Levy, também de origem judaica, justificou- se dizendo que o objectivo foi "apear Hitler, que surge sempre como um colosso, do pedestal em que o colocaram, o que numa comédia se faz satirizando".
Surpreendentemente, o protagonista de "Mein Fuehrer", Helge Schneider, também veio a público criticar o realizador, considerando o filme "parvo", e criticando Levy por ter alegadamente abandonado o guião inicial, que era ainda mais centrado no ditador nazi.
"Agora, com a nova montagem, o filme é apenas uma história sobre judeus, e, se eu soubesse, provavelmente, não teria participado", disse o conhecido humorista à imprensa alemã.
Dani Levy, 49 anos, já tinha dado que falar com o seu anterior filme, "Alles auf Zucker" (Tudo sobre Açúcar), comédia sobre um alemão de leste, ateu, que tenta demonstrar que afinal é crente, para herdar uma fortuna dos parentes judeus, obra que lhe valeu críticas de judeus ortodoxos na Alemanha.
O realizador de "Mein Fuhrer - die Warsten Wahrheit ueber Adolf Hitler", título completo do seu novo filme, que significa qualquer coisa como "A Verdade Verdadinha sobre Adolf Hitler", foi palhaço no início da sua carreira e trabalhou no teatro anti- autoritário "Rote Gruetze", na Suíça, o que, segundo alguns comentadores, explica a sua tendência para obras provocadoras.