Filme "Vitalina Varela" de Pedro Costa vence Leopardo de Ouro em Locarno

por Lusa
EPA

O filme "Vitalina Varela", do realizador português Pedro Costa, conquistou hoje o Leopardo de Ouro, prémio máximo do Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, anunciou a organização. A atriz protagonista do filme, Vitalina Varela, foi também distinguida com o Leopardo de Melhor Interpretação Feminina.

Depois de ter sido distinguido em Locarno, em 2014, com o prémio de melhor realização por "Cavalo Dinheiro", Pedro Costa regressou este ano ao festival estreando o filme sobre uma mulher cabo-verdiana que chega a Portugal três dias após a morte do marido, depois de ter estado 25 anos à espera de um bilhete de avião.

Pedro Costa conheceu Vitalina Varela quando rodava "Cavalo Dinheiro", acabando por incluir parte da sua história na narrativa, mas o novo filme é totalmente dedicado a esta cabo-verdiana de 55 anos.

A atriz cabo-verdiana também foi distinguida na sexta-feira com o Prémio Boccalino d'Oro para melhor atriz, disse hoje à agência Lusa a produtora Optec Filmes.

O Boccalino d'Oro é um prémio paralelo ao Festival Internacional de Cinema de Locarno, entregue por um júri independente, tendo sido criado por um grupo de programadores e cineastas no ano 2000.

Só um realizador português conquistou antes o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno: José Álvaro Morais, em 1987, pelo filme "O Bobo".
Marcelo felicita o realizador

Numa mensagem publicada na página oficial da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa felicitou Pedro Costa.

"Fiel às pequenas e grandes sagas das gentes de Cabo Verde, que em filmes anteriores fomos seguindo na companhia de Ventura, Pedro Costa mantém igualmente uma atenção inabalável às pessoas que filma. O que torna especialmente justo que Locarno tenha distinguido a atriz Vitalina Varela com o prémio de melhor interpretação feminina", destaca o Presidente.

Marcelo Rebelo de Sousa considera ainda que, "se o reconhecimento internacional de um cineasta português é sempre motivo de regozijo, é-o ainda mais quando demonstra que o cinema pode ser empatia intransigente e rigor fulgurante".

Também a ministra da Cultura, Graça Fonseca, felicitou o realizador pelo prémio. "A distinção conhecida hoje em Locarno sublinha a importância internacional do cinema de Pedro Costa", sublinha a ministra.

"A atenção ao rigor dos detalhes, a comunhão das diferentes linguagens técnicas, como a fotografia e o som, e a entrega dos intérpretes a uma narrativa que questiona a perceção e a realidade, fazem do cinema de Pedro Costa um exemplo a destacar na história do cinema contemporâneo", refere Graça Fonseca.

A ministra da Cultura acrescenta ainda que o Festival de Cinema de Locarno "tem sido um lugar cúmplice para o cinema português", dando como exemplos distinções como a de 1987 (Leopardo de Ouro para "O Bobo", de José Álvaro de Morais) e de 2013, com o prémio especial do júri para "E agora, lembra-me?", de Joaquim Pinto.
Percurso de Pedro Costa

Nascido em Lisboa, em 1959, Pedro Costa é um cineasta independente, herdeiro das experiências feitas em 16mm no documentário pelos seus pares do chamado Novo Cinema, tendo-se formado na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa.

Iniciou a atividade nos anos 1990, tendo sido assistente de realização de Jorge Silva Melo e de João Botelho, criando, até hoje, 15 longas e curtas-metragens como "Ne Change Rien" (2009), "Juventude em Marcha" (2006), "Ossos" (1997), "Casa de Lava" (1994) e "O Sangue" (1989).

O filme "No Quarto da Vanda" deu-lhe o Prémio France Culture para o Cineasta Estrangeiro do Ano, no Festival de Cannes de 2002.

Desde a estreia, em Locarno, o agora premiado "Vitalina Varela" já tinha recebido vários elogios da crítica a nível mundial, nomeadamente do Hollywood Reporter, que o descreveu como "um épico intimista" e "trágico", considerando que esta nova longa-metragem irá colocar Pedro Costa "num novo patamar de ambiente, forma e narrativa" cinematográfica.

O portal IndieWire, por seu lado, definiu "Vitalina Varela" como mais uma "visão arrebatadora e magistral de Pedro Costa", sublinhando que, desde que Bela Tarr se retirou da filmagem de novas obras, o realizador português tem sido o "porta-estandarte de um certo tipo de cinematografia severa, lírica, ancorada em ambiguidade e rica de implicações".

Por seu turno, o sítio 'online' da revista francesa Les Inrockuptibles descreve a obra do realizador português como um projeto "entre o documentário e o retrato íntimo", num ambiente que "intriga pela aridez e beleza plástica".

O novo filme de Pedro Costa estará ainda em competição, em setembro, no Festival de Cinema de Toronto, no Canadá, e no 57.º Festival de Cinema de Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde tem garantida distribuição em 2020.

No Festival de Cinema de Locarno foram também exibidos filmes dos realizadores portugueses Basil da Cunha e João Nicolau, na competição internacional.

Na competição do festival suíço estreou-se "Technoboss", de João Nicolau, protagonizado pelo ex-programador cultural Miguel Lobo Antunes, no papel de um sexagenário divorciado, e pela atriz Luísa Cruz.

A ele juntou-se, "O fim do mundo", segunda longa-metragem de ficção do luso-suíço Basil da Cunha, sobre Spirra, "um jovem que acaba de sair de um colégio interno e se encontra de novo com os amigos na Reboleira".

Fora de competição, Locarno exibiu também "Prazer, Camaradas!", de José Filipe Costa, a partir de histórias de portugueses e estrangeiros vividas em cooperativas e aldeias portuguesas, no pós-25 de Abril de 1974.

Na secção 'Pardi di Domani' encontrava-se a coprodução portuguesa "Vulcão: O que sonha um lago?", da romena Diana Vidrascu, desenvolvida numa residência artística nos Açores, enquanto Maya Kosa e Sérgio da Costa mostram "L'île aux oiseaux", a concurso na secção Cineastas do Presente.

O Festival Internacional de Cinema de Locarno 2019 termina este sábado - após a exibição de 80 filmes durante dez dias - com a entrega dos prémios a partir das 21h00 (20h00 em Lisboa).
Tópicos
pub