GNR "fazem as pazes" com o sistema em palco com a banda da Guarda Nacional Republicana

** António Pereira Neves, Agência Lusa **

© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

Lisboa, 11 Abr (Lusa) - Os músicos que há quase 30 anos irritaram a Guarda Nacional Republicana apresentando-se com a sigla GNR fizeram as pazes com o sistema e vão partilhar o palco com a banda sinfónica da corporação no dia 18.

Marcado para o dia 18 de Abril no Pavilhão Atlântico, um concerto único juntará os GNR com 115 músicos da Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, que trará arranjos novos a clássicos como "Hardcore 1º Escalão", "Bellevue" ou "Vídeo Maria".

"Nesta altura do campeonato, era uma das coisas que nos faltava fazer, de que já se falava há uns anos", afirmou o vocalista Rui Reininho em declarações à Agência Lusa, assumindo que o encontro de "GNRs" cura de vez quaisquer fricções entre o grupo e a corporação, no que respeita ao uso da mesma sigla.

"Não é segredo que houve várias fricções. A música serve para estas coisas. As nossas duas instituições deram-se bem através da coisa mais maravilhosa do mundo, que é a música...a seguir às crianças", afirmou.

Pelo lado da GNR, o maestro da Banda, tenente-coronel Joaquim Montezo, afirma que "a fricção vai acabando com o tempo", seguro de que "hoje já não há confusão" entre as "duas" GNR.

"No princípio existiu, eu fui um daqueles que não gostei, como já disse várias vezes", reconheceu o militar.

Apesar de ter cantado em tempos "Tens 18 anos e a quarta classe/ És um jovem ambicioso (...) vem ser um gordo da GNR", ("Sê um GNR"), o Grupo Novo Rock hoje não está tão preocupado com controvérsias: "esta formação dos GNR actual é mais pop e tem menos a ver com aquele início, com mais guitarras, agora é uma coisa menos `rock português` e mais internacional", argumentou Rui Reininho.

"Esse tema [Sê um GNR] já não faz sentido, mesmo no nosso repertório habitual", salienta.

"Isto é para outro tipo de ouvido, está entre o `kitsch` e o sério, que é um lugar que nós temos ocupado...entre o palhaço rico e o palhaço pobre, toda a minha vida tem sido trabalhar no arame", assegura Rui Reininho.

Nos ensaios, que decorrem em instalações cedidas pelo Exército na Ajuda, apesar de ser um tenente-coronel a segurar a batuta, o ambiente é de descontracção: no intervalo entre duas músicas "a valer" que serão tocadas no concerto, há tempo para passar por uns compassos de "Smoke on the Water", dos Deep Purple.

Mas o tempo está contado, e os militares depressa se põem em sentido para ensaiar "Sub-16", com o maestro a insistir na conclusão: "não é isso que está escrito!", aponta a um trombonista que prolongou demasiado a nota.

Para o outro "chefe de banda", Rui Reininho, as divisas não intimidam: "é uma pessoa com um sentido de humor fantástico, às vezes é ele que tem as ideias mais destrambelhadas, no bom sentido", afirma sobre o líder da banda da GNR.

Dos ensaios com a banda, os GNR têm tirado também algumas lições, sobretudo de "disciplina": "estamos a investir muito nisto, reunir tanta gente e tantos músicos", refere, acrescentando que as horas de ensaio são mesmo para se cumprir.

"Estamos aqui às duas horas porque três minutos depois isto arranca mesmo", refere, entre risos.

O tenente-coronel Montezo afirma que o "desafio" de juntar a banda ao Grupo Novo Rock é encarado pelos militares com "muito optimismo, sentido de responsabilidade e acima de tudo como um encontro de amigos.

Sobre como os temas resultam com os novos arranjos, Rui Reininho estabelece várias balizas: "há um lado `Barco do Amor`, há Stockhausen, Pierre Boulet, Duke Ellington, uns mais pop, outros mais jazz".

Temas como "Espelho" resultam "mais modernaços", graças à versão de NBC na compilação "Revistados", movendo-se entre o R&B e o Hip-Hop.

Quanto à escolha dos temas, Reininho afirmou que ambas as formações trabalharam o alinhamento, com o Grupo Novo Rock a concordar em escolher um repertório "que fosse adequado" à banda sinfónica, que pela quantidade de músicos e formações possíveis "se calhar tem ias flexibilidade em se adaptar".

O tenente-coronel Montezo assegura que os seus músicos vão "pôr o melhor de si em palco, embora estejam habituados a outro género".

Para os músicos da banda, tocar com um grupo da área do pop-rock "é sempre um pouco difícil, mas nunca tão difícil ou transcendente que não conseguissem em pouco tempo adaptar-se".

"Os músicos são excelentes profissionais, há uma grande flexibilidade em termos de execução", referiu

Em palco, e apesar de a presença da banda da GNR se prestar a um tom mais solene, Rui Reininho garante que não será um espectáculo estático: "não vamos estar ali sentadinhos, com aquele ar de falso acústico".

"Sobretudo, vai ser um prazer reouvir aquelas músicas. Para mim, já foi um prazer com o `Revistados`, haver uma geração que pode aproveitar aquilo", frisou.


PUB