Historiador português Alberto Oliveira Pinto lança "História de Angola"

Lisboa, 03 fev (Lusa) -- O historiador Alberto Oliveira Pinto, que lança quinta-feira em Lisboa a "História de Angola", sintetiza na obra os factos aos níveis territorial, colonial e depois nacional, desde a pré-História até ao fim da guerra civil angolana, em 2002.

Lusa /

Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Oliveira Pinto considera não apenas as fontes escritas mas também as fontes orais e arqueológicas, assim como as informações sobre os Estados angolanos pré-coloniais.

"Um exemplo diz respeito à história do povo ovimbundo e da maioria dos povos angolanos a sul do Planalto Central antes do século XIX, para os quais há todo um caminho aberto à arqueologia e a outros historiadores que se preocupam com a incontornável história regional", refere o académico no prefácio do livro.

Apesar do trabalho de síntese, a obra inclui novas referências como, por exemplo, as consequências da "Lei Palmerston", imposta por Londres sobre a "proibição ao tráfico de escravos" e que concedia aos cruzadores britânicos, na primeira metade do século XIX - "à revelia de qualquer acordo com o governo português" - a faculdade de visitar e apresar os navios com bandeira portuguesa suspeitos de envolvimento no tráfico de escravos.

"Só agora ao redigir este livro é que descobri para onde os ingleses levavam os escravos depois de apresarem os navios portugueses. Levavam-nos para as colónias que lhes restavam. Já não tinham a América mas tinham duas colónias de plantação: a Jamaica e a Serra Leoa. Este é um dos segredos que a História oculta", relata à Lusa o historiador sobre novos factos estudados no livro.

A "História de Angola", entre outros temas, explica ainda que Cabinda tem cerca de 100 quilómetros de terra a separar o território do resto de Angola porque "cerca de duas semanas após o Tratado de Simulambuco, em 1885, (entre Portugal e o Reino de N`Goyo) foram encerrados os trabalhos da Conferência de Berlim onde os delegados português, francês e belga resolveram chegar a um acordo sobre o acesso ao rio Congo para o escoamento das mercadorias.

Deste modo, o rei Leopoldo da Bélgica ficou com a margem norte do rio Congo do Zaire, os portugueses ficam com a margem sul, os franceses passam a ter acesso ao rio Casamansa e é nesse momento que o território de Casamansa passa dos portugueses para os franceses mas Lisboa pede em troca a manutenção de Cabinda.

"Isto passa-se um dia depois da Conferência de Berlim. Existe o mito de que a Conferência de Berlim dividiu a África `a régua e esquadro` mas na verdade não o fez. Criou as regras para que isso fosse feito nos anos seguintes. O primeiro tratado logo a seguir à conferência é feito num bar de Berlim entre portugueses, franceses e belgas. Fez com que Cabinda seja ainda hoje um enclave", refere o historiador.

Sobre a questão colonial, Oliveira Pinto recorda que a revisão constitucional portuguesa de 1951 alterou a designação colónias para províncias ultramarinas, tratando-se afinal de uma expressão recuperada do século XIX.

"O primeiro texto jurídico onde aparecem os termos `províncias ultramarinas e ultramar` é num ato constitucional adicionado à Carta Constitucional de 1851, curiosamente 100 anos antes da revisão constitucional do Estado Novo", que recuperou um conceito que já existia no século anterior e que a Primeira República e o próprio regime salazarista não utilizavam, referindo-se a colónias e a império.

Na parte respeitante ao período após o 25 de Abril de 1974, o livro aborda a descolonização e analisa, entre outros factos, os efeitos imediatos da purga que fez milhares de mortos a seguir ao levantamento de 27 de maio de 1977, conhecido como o "Golpe de Nito Alves".

"O país perdeu muitos dos seus melhores quadros e a terrível repressão provocou um grande vazio na sociedade civil angolana, onde passou a reinar o terror e de onde desapareceu o debate e o espírito crítico. As Comissões Populares de Bairro foram dissolvidas. E o obscurantismo intelectual refletiu-se não só nas organizações de massas, como a OMA (Organização da Mulher Angolana) ou o sindicato único UNTA (União Nacional dos Trabalhadores Angolanos), mas sobretudo na juventude angolana, que se tornou tendencialmente acrítica e dependente das decisões das altas esferas do partido único", escreve o historiador.

O livro termina em 2002, o fim da guerra civil, após a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi.

"História de Angola, da Pré-História ao Início do Século XXI" (Mercado de Letras Editores, 791 páginas), vai ser apresentado na quinta-feira na sala de conferências do Arquivo Nacional Torre do Tombo, em Lisboa.

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