Implementação no Brasil lançou "grande conversação" sobre a Língua

Brasília, 28 Fev (Lusa) - A avaliação dos dois primeiros meses da entrada em vigor das novas regras da ortografia da Língua Portuguesa no Brasil é "muito positiva" e não houve nenhuma objecção colectiva ou movimento contrário ao Acordo Ortográfico, segundo o Ministério da Educação.

© 2009 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

"O Acordo Ortográfico provocou uma grande conversação sobre a Língua Portuguesa no país. Discordando ou concordando, todos estão a discutir a Língua Portuguesa e este é o saldo mais positivo disso", disse hoje à agência Lusa o assessor especial do Ministério da Educação, Carlos Alberto Xavier.

O Ministério da Educação está a aguardar o novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado pela Academia Brasileira de Letras, com cerca de 370 mil palavras, para desenvolver acções de divulgação das novas regras ortográficas.

Após a publicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, prevista para o início de Março, o governo vai preparar um documento de orientação sobre a aplicação do Acordo Ortográfico para professores e directores das mais de 200 mil escolas públicas do país, a ser distribuído ainda este semestre.

Segundo Xavier, o Brasil também acolherá, até Julho, um encontro de representantes dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa para debater a implantação do Acordo.

O professor e pesquisador em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira Domício Proença Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, informou à Lusa que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa "já está no prelo, em fase final de edição" e que será o texto base da nova reforma ortográfica.

A implantação das novas regras no Brasil, já adoptadas pela imprensa brasileira, é vista com optimismo pelo filólogo, que considera as escolas como as maiores agências multiplicadoras.

"A resistência à mudança é muito menor que a sedução do novo. Além disso, as mudanças no Brasil atingem apenas 0,5 por cento das palavras", destacou Proença Filho, que vai lançar em Março o seu mais recente livro, "Nova Ortografia da Língua Portuguesa - Guia Prático".

Na opinião do académico, o Acordo representa "uma concordância dificílima entre os países de Língua Portuguesa" e as diferenças de ortografia autorizadas pelas novas regras "não prejudicam a unificação do consenso".

Esta posição não é partilhada pela jornalista e escritora brasileira Dad Squarisi, para quem "o Acordo Ortográfico fracassou".

"Não houve unificação. A reforma adoptou o critério da flexibilidade e, desta forma, Portugal continuará a escrever `económico` e `cómodo`, enquanto a grafia no Brasil será `econômico` e `cômodo`, por causa da diferença das duas pronúncias. Não houve o acerto que deveria ter havido", afirmou Dad à Lusa.

As principais mudanças na ortografia brasileira são a extinção do trema, a inclusão das letras K, Y e W no alfabeto, o fim do acento em ditongos abertos e do hífen em várias palavras compostas.

"A utilização do hífen é o que suscita mais dúvidas e a nossa orientação é de que os alunos sempre façam consultas", salientou à Lusa Josino Nery Neto, coordenador de Língua Portuguesa do Colégio Sigma, uma das maiores escolas particulares de Brasília.

Segundo Nery Neto, que montou uma estratégia para implementar as novas regras da ortografia em todas as séries do colégio, as mudanças causam algum estranheza mas não há qualquer reacção colectiva de insatisfação por parte dos alunos com o Acordo.

"O que é novo é sempre atraente e os estudantes brasileiros não terão problemas em aprender as novas regras", assegurou o professor.

O adolescente Felipe Magnus Carvalho Schmidt, de 16 anos, corrobora esta avaliação.

"Os meus colegas e eu aceitamos as mudanças numa boa, mais ainda temos dificuldades especialmente no uso do hífen e em tirar o acento agudos dos ditongos abertos ei, oi. A mão ainda coça para acentuar palavras como ideia, joia e geleia. Mas é só uma questão de tempo para a gente se acostumar", disse à Lusa.

O Acordo Ortográfico entrou em vigor oficialmente no Brasil a 01 de Janeiro e, embora seja facultativo até 2012, com prazo de quatro anos para sua completa aplicação, os livros didácticos brasileiros já deverão estar totalmente adaptados às novas regras em 2010.

CMC.

Lusa/Fim


PUB