Joana Vasconcelos exibe em Veneza sapato de cinco metros feito com panelas portuguesas

Um sapato de cinco metros feito com panelas portuguesas, uma colcha de crochet e uma embarcação de azulejos, são as obras de arte contemporêanea que a artista Joana Vasconcelos expõe em Veneza entre 07 e 10 de Junho.

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A. /

Em declarações hoje à Lusa, a artista explicou que o sapato - "em fase de acabamento" - foi a nova obra encomendada pela ADIAC-Portugal Associação para a Difusão Internacional da Arte Contemporânea e a ARTCURIAL Auction House, entidades organizadoras da exposição, intitulada "Yellow Brick Road", que estará patente no Palazzo Nani Bernardo Lucheschi, com o apoio do Ministério da Cultura.

A obra de Joana Vasconcelos tornou-se mais conhecida do público português a partir de 2005, quando apresentou também em Veneza "A Noiva", um lustre feito com vinte mil tampões higiénicos femininos e que foi escolhido como peça principal da Bienal naquele ano.

Nesta nova exposição, que antecede a abertura da 52ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, a artista plástica regressa com três peças de grandes dimensões: o sapato de salto alto, a colcha de sete metros em crochet manual, que será suspensa na fachada do palácio, e a embarcação que ficará colocada junto a uma gôndola do Gran Canall.

"Serem trabalhos de grande escala não é o mais importante. Importantes são as ideias expressas nas obras", salientou a artista, explicando que a grande escala surge em consequência dos materiais que emprega.

"No caso do sapado Dorothy, que é, afinal, uma sandália de santo alto, o meu objectivo era chamar a atenção para a dualidade da vida actual das mulheres, da incompatibilidade entre os afazeres domésticos e a vida social activa", explicou, indicando que ficará instalado no jardim do palácio.

Para esta abordagem quis usar panelas - "o típico tachinho de fazer o arroz" - e respectivas tampas, em vários tamanhos. Daí que, ao construir o sapato, a dimensão final de "Dorothy" "nunca poderia ser pequena".

Apesar de continuar a criar obras que levantam questões ligadas às mulheres, Joana Vasconcelos rejeita ser rotulada de feminista porque a sua análise "é mais social, a nível prático mais do que político", esclareceu.

Considera que a passagem pela Bienal de Veneza de 2005 foi um dos momentos mais importantes da sua carreira, iniciada há 13 anos, depois de ter concluído o curso de artes plásticas da escola Ar.Co, em Lisboa.

Entretanto surgiram várias exposições internacionais e, no ano passado, venceu um concurso aberto pela Fundação Berardo para artistas portugueses contemporâneos, apresentando dois castiçais com quase cinco metros moldados com centenas de garrafas.

Estas peças ficarão colocadas no Centro Cultural de Belém (CCB) à entrada e saída do Museu Berardo de Arte Contemporânea, que será inaugurado a 25 de Junho.

A emblemática peça "A Noiva", adquirida pelo coleccionador António Cachola, pode ser vista pelo público no recém inaugurado Museu de Arte Contemporânea de Elvas, espaço museológico municipal com acervo pertencente àquele coleccionador privado.

Espanha é o país que tem revelado mais interesse no trabalho da artista plástica, 35 anos, mas também o Brasil, os Estados Unidos e Reino Unido, onde este ano também vai expôr.

No seu trabalho, Joana Vasconcelos usa objectos do quotidiano que retira do uso habitual, e com a sua repetição e acumulação numa obra de grande escala "faz desaparecer o material para chegar ao conceito, à abstracção. É o conceito subjacente que tem mais força. O material que uso é apenas um meio e não um fim", justificou.

A embarcação revestida a zulejo, intulada "Barco da Mariquinhas", é das três a obra mais antiga e esteve recentemente exposta em Tavira, no Algarve, enquanto a "Donzela" - colcha de sete metros - foi exibida também este ano no Castelo de Santa Maria da Feira.

PUB