Numa carta de intenções, o escritor, encenador e professor checo há várias décadas radicado em Portugal, que adaptou ao palco este texto "completamente fora dos códigos estabelecidos de um dos maiores escritores brasileiros do século XX", explica que "esta prosa, este conto dramático, nunca foi realizado numa peça teatral" fora do Brasil e, mesmo aí, apenas teve uma versão radiofónica.

"Assim, de certo modo, trata-se de uma estreia mundial", observa Listopad, de 89 anos, que encenou cerca de 60 peças e óperas na antiga Checoslováquia e em França, Alemanha, Suíça e Portugal, onde presidiu à comissão instaladora da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e dirigiu a sala experimental do Teatro Nacional D. Maria II, entre muitos outros projetos em que participou.

Interpretado pelo ator José Artur Pestana, "Meu tio o Jaguar" é "constituído por um monólogo a duas vozes, com muitos presentes e ausentes, de um caçador de onças-jaguar que, numa metamorfose quase feita diante dos olhos dos espectadores, se transforma, pela solidão, melancolia aguda e alegria quase grotesca, em jaguar, o seu bicho mais amado antes de ser caçado", indica Listopad, no texto enviado à Lusa.

Nesta peça -- prossegue Jorge Listopad -, "estamos perto de uma emoção algures em zonas obscuras, entre animalidade e humanidade, o nascimento de um novo sentimento".

"Mas também não estamos longe das grandes obras épicas do autor de `Grande Sertão, Veredas`, aqui ainda mais fascinante pela utilização de uma nova linguagem, uma osmose do português do Brasil e de tupi, de neologismos, de gritos e de sons. Um encantamento lúcido", conclui.

Depois da estreia, "Meu tio o Jaguar" estará em cena na Ler Devagar até 18 de dezembro, às sextas-feiras e sábados, às 21:30, e aos domingos, às 19:30.