José Luís Peixoto lança "Cemitério de Pianos"
O romance "Cemitério de Pianos", que o escritor José Luís Peixoto lança segunda-feira no Teatro São Luiz, em Lisboa, é um livro sobre a renovação e tem já os direitos de publicação vendidos para França.
"Neste romance, o tema central é a transcendência, na medida em que a morte não surge aqui como fim absoluto, mas para mostrar que - apesar dela - as pessoas continuam a existir naquilo que deixaram de si" neste mundo, explicou o autor à agência Lusa.
Para José Luís Peixoto, o cemitério de pianos, que designa "a zona de uma oficina onde se acumulam pianos velhos e sem conserto", é também uma representação dessa continuidade, pois são os instrumentos `mortos` que "cedem as peças que permitem manter `vivos` outros pianos".
"Pretendi abordar a fronteira entre a vida e a morte e, apesar de o livro descrever os momentos finais de algumas personagens, ele também inclui várias descrições de nascimentos, associando-se assim à vida e à alegria", assinalou o autor, revelando que o livro foi influenciado "pelo facto de ter sido pai enquanto o escrevia".
Os narradores do livro são um pai e um filho que, em tempos diferentes mas por vezes sobrepostos, vão desvendando a história da família "numa linguagem intercalada de sombras e luz, de silêncio e riso, de medo e esperança, de culpa e perdão", lê-se no site do autor, www.joseluispeixoto.net.
Pai e filho - que se confundem na narrativa fazendo realçar a força do elo entre as gerações - revelam também a família enquanto "espaço de afectos, mas igualmente de violência doméstica e traição", explicou José Luís Peixoto à Lusa.
Em "Cemitério de Pianos" existem ainda outras particularidades, como o facto de o pensamento de uma personagem - Francisco Lázaro, nome de um célebre maratonista português - ser amiúde interrompido pela "contagem de quilómetros".
"Francisco Lázaro foi um atleta português que faleceu de insolação após cumprir 30 quilómetros da maratona, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912, e eu quis captar alguns aspectos da sua vida para este romance", assinalou o autor de "Morreste-me".
Os quilómetros que vão surgindo ao longo da narrativa "constituem interrupções nos pensamentos da personagem enquanto está a correr para a meta", esclareceu.
"A personagem baseia-se apenas circunstancialmente na história do atleta, que sempre me fascinou e que abalou o país devido à sua morte trágica", acrescentou José Luís Peixoto, para quem "Francisco Lázaro simboliza uma determinada perspectiva de Portugal: país capaz de grandes entusiasmos mas também de grandes desânimos colectivos".
O nome do maratonista é também usado pelo escritor para estabelecer um paralelismo "com o Lázaro que, segundo a Bíblia, Jesus ressuscitou", pelo que, tal como esta figura religiosa, "o Lázaro do romance tem duas irmãs chamadas Maria e Marta", indicou o autor.
O livro "Cemitério de Pianos", editado pela Bertrand, será apresentado no Teatro S. Luiz pelo jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho.
O romance será ainda lançado no Teatro Campo Alegre, no Porto, na terça-feira, estando a apresentação da obra a cargo de walter hugo mãe, numa sessão acompanhada ao piano por Álvaro Teixeira Lopes.
José Luís Peixoto nasceu em 1974 em Galveias, ganhou assiduidade nas leituras com as antigas bibliotecas itinerantes e licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, trocando posteriormente o ensino pela literatura.
Recebeu o Prémio Jovens Criadores em 1997, 1998 e 2000 e tornou-se colaborador de jornais e revistas, como a DNA (suplemento do Diário de Notícias), o JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias ou a Topic Magazine (Universidade de Cambridge).
Estreou-se no panorama literário no ano 2000 com a ficção "Morreste-me" e, pouco depois, o romance "Nenhum Olhar" agitava a crítica e era finalista dos prémios da Associação Portuguesa de Escritores e do PEN Clube, acabando por ganhar o Prémio José Saramago.
Após estes dois primeiros livros, José Luís Peixoto deu à estampa a obra de poesia "A Criança em Ruínas" (2001) e em 2002 lançou dois livros que dialogam entre si - "Uma Casa na Escuridão" (prosa) e "A Casa, a Escuridão" (poesia).
Em 2003 chegava às livrarias o livro de contos "Antídoto" e, dois anos depois, o escritor assinou as peças de teatro "Anathema" (estreada no Theatre de la Bastille, Paris) e "à Manhã" (estreado no Teatro S. Luiz, Lisboa).
José Luís Peixoto tem obra publicada em França, Itália, Bulgária, Turquia, Finlândia, Holanda, Espanha, República Checa, Croácia, Bielo-Rússia e Brasil, estando em preparação edições no Reino Unido, Hungria e Japão.
Actualmente, o escritor encontra-se a escrever uma peça de teatro que subirá à cena no S. Luiz em Maio do próximo ano.