José Manuel Pureza publica ensaio político "Linhas vermelhas" no próximo dia 19
O catedrático José Manuel Pureza afirma, no seu ensaio "Linhas vermelhas", a publicar no próximo dia 19, que "Portugal acordou tragicamente tarde para a construção de um Estado amigo dos direitos das pessoas".
Não tivemos, pois, nunca, em Portugal, um Estado de Bem-Estar consolidado e, por ser assim, nunca tivemos devidamente enraizada uma cultura de direitos sociais como suporte indispensável da prática dos direitos civis e políticos", atesta o ex-deputado e ex-líder da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda.
Atualmente, analisa o catedrático de Relações Internacionais da Universidade de Coimbra, "a vivência incipiente de Estado Social" que Portugal teve, atualmente, "nos aprece inexoravelmente longínqua e remetida para um passado sem remissão".
Pureza alerta aliás para o facto de que este "discurso de remissão" é "uma prescrição de amnésia e de passividade", uma narrativa que é uma "estratégia da diminuição da espessura dos direitos, do contrato social, de fragilização da mobilização social para os combates pela dignidade".
"O Portugal do próximo futuro será evidentemente um país mais pobre, resultado da redução salarial generalizada, da brutal penalização das reformas e da perda de salário indireto, traduzida no esfacelamento prático das políticas de universalidade de serviços públicos essenciais como a educação, a saúde ou a segurança social".
Para Pureza, "não se trata de uma consequência entre outras e muito menos de uma espécie de efeito colateral não desejado do programa de ajustamento".
O ex-parlamentar defende que "o empobrecimento e a penalização do trabalho foi -- e é -- o núcleo essencial do programa da `crise-como-política` concretizado em Portugal".
Em comunicado enviado à Lusa, a Bertrand Editora, que chancela a obra, afirma: "Para a `crise-como-política` não há linhas vermelhas. A luta por essas linhas inultrapassáveis, sempre mais avançadas, em vista da transformação profunda dos mecanismos que as tornam necessárias, está no coração da identidade histórica da esquerda. Diante da pujança inédita da `crise-como-política`, ela é mais importante hoje que nunca. É dessa luta que dá conta este livro. E é nela que toma partido".
A obra inclui uma carta, de duas páginas, que José Manuel Pureza redigiu ao sociólogo Miguel Portas (a quem dedica a obra), dois dias depois da morte do ex-deputado europeu do Bloco de Esquerda, em abril de 2012.
Na carta escreve: "Sim, Miguel, o que tu e eu queremos para nós e para todos é a vida em abundância. Aquela que se aprende com o tesouro que é a diversidade do mundo, não pelas fotografais do National Geographic ou pelas notícias da CNN, mas indo lá".
Além da demonstração de afeto e admiração pelo correligionário político, a dada altura, José Manuel Pureza escreve: "É por causa desse culto da ignorância que este Abril é de inverno e chove desapiedadamente nas nossas vidas. Aqui, em Atenas, em Madrid, em Bruxelas".
Defende o ensaísta "a luta por patamares de dignidade na organização social e económica".
"A fixação dessas linhas divisórias e a mobilização das forças necessárias para isso são o objetivo maior da luta política no nosso tempo", desafia o ensaísta, esclarecendo que, "é dessa luta que dá conta este livro".
"E é nela que toma partido", remata.
José Manuel Pureza, 57 anos, é catedrático de Relações Internacionais da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais.
Entre outras obras, publicou "Direito internacional da solidariedade?" (1998), "Para uma cultura da paz" (2001) e "Jovens e trajetórias da violência: os casos de Bissau e da Praia" (2012).