Júlio César foi homem superior aos seus contemporâneos - Adrian Goldsworthy
Lisboa, 02 Nov (Lusa) - Júlio César praticou mais actos de generosidade do que atrocidades, segundo o historiador Adrian Goldsworthy, autor de uma biografia do líder republicano romano, que considera um homem superior aos seus contemporâneos.
Em declarações à Lusa, Adrian Goldsworthy afirmou que Júlio César "era um talentoso político capaz de criar frases fortes que ainda hoje recordamos, mas que tinham o propósito de criar efeito junto das multidões".
"César era muito inteligente e foi isso que o diferenciou dos seus pares", e, segundo o historiador, cedo teve a percepção do poder da opinião pública.
"César. A vida de um colosso" é o título da biografia escrita por Adrian Goldsworthy, editada com a chancela da Esfera dos Livros.
Segundo o autor, esta biografia "faz incidir uma nova luz sobre o general e político que, apesar das grandes atrocidades que cometeu, teve em número maior actos de generosidade com os vencidos".
"Foi um político essencialmente prático, e os seus pares, que poderiam tornar-se líderes, não fariam melhor do que ele e haveria até mais possibilidades de serem piores", sublinhou.
Sobre como escreveu o livro, Goldsworthy indicou ter procurado "um outro olhar, ler de novo as fontes, excluindo o que se construiu em torno dele sem qualquer prova histórica".
A figura de César é, em seu entender, "de tal estatura que ainda hoje gera paixões, ou se ama ou se odeia, e procuram-se argumentos no sentido de cada uma das partes. O facto é que César era notável".
"Bom ou mau - prosseguiu - era um homem notável, inteligente, capaz de combinar tão díspares capacidades. Além de excelente general, escreveu sobre as suas batalhas, o que era raro, e esses escritos são ainda hoje clássicos da literatura".
O líder da República dos Romanos escreveu ainda um livro sobre gramática e outro sobre poesia.
"Os seus inimigos, que acabaram por o matar em nome da República, eram tão egoístas quanto ele, mas não tão eficientes, e serviam os interesses de uma pequena aristocracia que apenas queria enriquecer. O povo das ruas, os cidadãos, não queriam César morto", sentenciou Adrian Goldsworthy.
O autor, que se confessa "fascinado" pela figura de Júlio César, está actualmente a escrever um livro sobre o relacionamento entre Cléopatra e Marco António.
O próprio Júlio César "foi amante de Cléopatra", mas a sua vida privada é pouco explorada neste livro de 750 páginas.
"Apesar de a vida de César ser tão dramática que inflama a imaginação literária, não só pelos amores e relacionamentos, como pelas vicissitudes e pela sua personalidade, limitei-me a dar a conhecer o general e o político, fazendo enfoques na vida particular quando essenciais", esclareceu o historiador.
Segundo o autor, a relação de Júlio César com a mãe "foi muito forte até aos seus 30 anos, por exemplo, e isso teve importância, até porque a mãe, como qualquer aristocrata, era ambiciosa".
Adrian Goldsworthy visitou "quase todos os lugares onde César esteve", mas projecta "viajar e conhecer todas as províncias que constituíram o Império Romano, que foi de facto o maior de sempre, na medida em que os Romanos dominaram aquilo que virtualmente conheciam".
NL.
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