"La Traviata" com Netrebko editada esta semana em duplo CD
A produção de ópera que causou sensação no Festival de Salzburgo deste ano, "La Traviata", de Verdi, com a soprano russa Anna Netrebko, surge esta semana num duplo CD.
A produção da ópera do compositor italiano, baseada no romance "A dama das camélias", de Alexandre Dumas filho, no Festival austríaco, foi qualificada pela imprensa como "gloriosa".
O jornalista Norbert Christen afirma que "La Traviata" foi "em absoluto o ponto alto do festival", quer pelas sete apresentações, esgotadas meses antes, o que fez "subir os preços no mercado negro", tendo havido quem trocasse um cruzeiro de luxo nas Caraíbas por um lugar no dia da estreia, quer pelo "apoteótico aplauso".
A estreia acabou por ser transmitida pela rádio e televisão e foi instalado um ecrã gigante no exterior do teatro.
A expectativa criada, nomeadamente pela actuação da mais recente "estrela" operática, a soprano russa Anna Netrebko, confirmou- se pelos "frenéticos aplausos e espontânea ovação de pé, como não se via desde os tempos do maestro Herbert von Karajan" neste festival, relata o jornalista Christen no texto de abertura do "booklet" que acompanha esta edição discográfica da Deutsche Grammophon.
O jornalista refere também a "elevada inteligência e teatralidade" da produção de Willy Decker.
A interpretação da soprano russa no papel da protagonista, Violetta Valery, "não deixou dúvidas que tem um efeito mágico nos amantes da ópera", podendo, ainda, na opinião de Norbert Christen, "trazer novos públicos para a ópera".
Ao lado de Netrebko (Violetta), que correspondeu às expectativas criadas demonstrando "ser uma artista fascinante e de excepcional carisma", estiveram Helene Schneiderman (Flora, amiga de Violetta), Diane Pilcher (Annina, criada de Violetta), Rolando Villazón (Alfredo Germont, apaixonado de Violetta), Thomas Hampson (pai de Alfredo) e ainda Salvatore Cordella (Visconde de Letorrières), Paul Gay (Barão Douphol) e Herman Wallén (Marquês de Obigny), entre outros.
A orquestra é a Filarmónica de Viena sob a batuta de Carlo Rizzi e os coros são da Konzertvereinigung Wiener Staatsoper, sob a direcção de Rupert Huber.
A ópera de Giuseppe Verdi estreou-se em Março de 1853 no Teatro La Fenice, em Veneza, perante o que o próprio compositor considerou "um fiasco" pela reacção do público, mas que mereceu rasgados elogios da imprensa de então.
Verdi pretendia, como escreveu ao seu amigo Cesare de Sanctis, um "assunto explosivo e uma nova formulação musical".
O romance de Dumas, "A dama das camélias", trouxe-lhe esse novo assunto e Verdi tornou uma prostituta de alta sociedade numa heroína operática e procurou mostrar o mundo pelos seus olhos.
A temática era provocatória para a sociedade europeia do século XIX, mas Verdi encontrava o que pretendia: algo "novo, grande, belo, diferente, verdadeiramente forte e em novas formas".
Se a estreia teve uma fria reacção do público veneziano, passados 14 meses Verdi reformulou a ópera e voltou a apresentá-la no La Fenice com absoluto êxito.
A ópera "La Traviata" é hoje em dia "obrigatória" no reconhecimento de qualquer soprano e figura regularmente nas programações dos palcos e festivais operáticos.