"La Yave" antologia o canto ladino, voz dos judeus sefarditas

O álbum "La Yave", a editar na próxima semana pela Megamúsica, procura ser "a chave para a música sefardita", reunindo os diferentes testemunhos da música dos judeus que saíram da Península Ibérica no século XV.

Agência LUSA /

Quando em 1492 um decreto dos Reis católicos de Castela, Isabel e Fernando, impõe aos judeus duas hipóteses, a conversão forçada ou a fogueira, muitos procuraram o exílio nas terras do Norte da Europa mas, principalmente na bacia mediterrânica (Marrocos, Argélia, Tunísia, Turquia, Bósnia e Grécia).

Nesses países constituíram comunidades onde procuraram manter a sua identidade ibérica e judia, nomeadamente mantendo a linguagem.

A língua dos judeus hispânicos (sefarditas) desde o século VIII, o ladino, acabaria por incorporar ao longo dos séculos as influências de outros idiomas, nomeadamente do francês, árabe, grego e turco. O ladino conseguiu sobreviver graças às suas canções, fixadas no século XX.

Algumas dessas canções são aqui reunidas, na sua maioria de Israel, país que segundo fonte diplomática israelita disse à agência Lusa, "tem feito vários esforços no sentido da sua recuperação e dinamização".

Para o musicólogo Jan Waas, que constituiu esta antologia de 16 temas, esta é "uma chave para descobrir um tesouro que são as canções sefarditas".

Para além das recolhidas em Israel, há também canções da Grécia, Marrocos, Turquia e Estados Unidos.

"La jave de Espanja" é o primeiro tema cantado pela cantora bósnia Flory Jagoda, a residir actualmente nos Estados Unidos, e conta a lenda das chaves que os sefarditas trouxeram das suas casas em Espanha, passando-as de geração em geração como símbolo da sua diáspora.

A dado passo, Flory canta: "Onde está a chave que estava no armário? Os pais dos meus pais trouxeram-nas com grande sofrimento das suas casa em Espanha".

Shura Lipovsky, dos Países Baixos, é uma "das melhores cantoras de ladino", segundo Waas. Lipovsky canta com o Ensemble Antequera o tema "Nani, nani", relatando os problemas em que está envolvida, entre o seu marido e um novo amor.

São dezasseis canções que contam histórias e lendas, como a morte de Roldão, por Alicia Benassayag (Marrocos), ou problemas do quotidiano.

Entre os dezasseis intérpretes em "La Yave" encontram-se David Saltiel, da comunidade sefardita de Salónica (Grécia), Yacoub B+Chiri da comunidade ilha tunisina de Jerba, ou ainda Jalda Rebling que expressa a esperança de um dia reunir toda a comunidade ladina.

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