Livro recorda Alpiarça como "centro da vida republicana" e foco de resistência

por Agência LUSA

Alpiarça como "o grande centro da vida republicana" e foco de resistência em momentos sensíveis da história do país é o tema de um livro de um autor local já à venda.

"Gente de Outro Ver - Actividade política em Alpiarça desde as invasões francesas ao 25 de Abril de 1974" é o título do livro de José João Pais, ex-vice- presidente da Câmara local.

O livro retrata, por exemplo, o papel das gentes da vila ribatejana de Alpiarça no apoio a José Relvas, o político e diplomata que proclamou a República a 05 de Outubro de 1910.

Em mais de 750 páginas, José Pais reuniu muito do que encontrou em milhares de documentos que consultou, durante ano e meio nos arquivos distritais de Santarém e da Câmara Municipal de Alpiarça, da ex-PIDE/DGS, na Biblioteca Nacional e na Casa Museu dos Patudos (palacete onde viveu José Relvas).

Foi ao lidar com documentos da autarquia (quando foi vice-presidente da Câmara) que José Pais se apercebeu do manancial de informação existente sobre a história do concelho, tendo, assim que se reformou, deitado mãos à escrita, disse à Agência Lusa, adiantando que este é o terceiro livro que edita.

O livro dá a conhecer o espírito lutador das gentes de Alpiarça, um "microcosmos" que José Pais diz só encontrar no Couço e em Avis.

Escolhendo as invasões francesas como marco inicial - porque foi aí que a localidade ganhou dimensão, graças à fuga das populações de Santarém e à instalação do quartel das forças resistentes -, passando pelo facto de Alpiarça ter sido "o grande centro da vida republicana", dada a presença de José Relvas, o livro vai até 1974, incidindo no foco de resistência ao regime que levou a que a PIDE instalasse um posto na vila.

José Pais disse à Lusa que retirou o nome do livro, "gente de outro ver", de uma citação, nos registos da PIDE, de um discurso, em 1970, de um oposicionista local ao regime salazarista.

O autor sublinha que o espírito de luta e resistência não era exclusivo de um grupo social mais desfavorecido, mas abrangia vários estratos sociais.

Além de José Relvas, José Pais destaca figuras como Emílio Paciência, que esteve na génese da formação do Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1946 - que teve em Alpiarça "um dos núcleos mais dinâmicos"- ou os numerosos habitantes da vila que conheceram os calabouços da ditadura.

José Pais disse à Lusa ter ficado fascinado com a riqueza da documentação encontrada, parte da história local, mas também da história do próprio país.

Alertou para a necessidade de garantir a preservação, através da digitalização, dos numerosos manuscritos existentes na Casa-Museu dos Patudos, sobretudo correspondência trocada por José Relvas, que são "muito da história da primeira República".

José Relvas proclamou a República da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, em 05 de Outubro de 1910, tendo sido ministro da Fazenda do Governo provisório, embaixador em Espanha, presidente do Conselho e ministro do Interior, antes de se retirar para a Casa dos Patudos, que legou, juntamente com um riquíssimo património artístico, ao município de Alpiarça.

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