Um sítio arqueológico na aldeia de Holzthum, a norte do Luxemburgo, forneceu um conjunto de moedas em ouro, cunhadas há cerca de 1.600 anos. Os arqueólogos que investigam a área no Parque de Hosingen reportaram que as 141 numismas datam da segunda metade do século IV d.C. e apresentam a imagem de nove imperadores romanos que governaram entre 364 e 408 d.C..
As escavações arqueológicas realizadas entre 2020 e finais de 2024 no Parque de Hosingen, a norte do Luxemburgo, investigavam um imponente edifício fortificado do Império Romano, identificado pelos arqueólogos como um burgus, algo como uma pequena fortaleza romana ou torre.
Durante os trabalhos foi encontrado um “depósito monetário excecional, consistindo de 141 moedas romanas que datam da segunda metade do século IV d.C.”, descrevem os investigadores, que estavam a escavar o sítio arqueológico, sob a égide do Instituto Nacional de Investigação Arqueológica (INRA).
Nove imperadores
O achado foi considerado de grande importância arqueológica, “pois é extremamente raro poder estudar um antigo depósito monetário na totalidade e em contexto arqueológico”, ou seja, intacto e sem ter sido retirado do sítio onde foi deixado originalmente, argumentam os arqueólogos em comunicado do INRA.
O conjunto arqueológico apresenta ainda moedas cunhadas com a representação de nove imperadores romanos que governaram entre 364 e 408 d.C. De Teodósio I a Constantino III, alguém colecionou estas edições.
“Isso representa uma enorme quantidade de riqueza pessoal para o indivíduo ou grupo que guardou essas moedas”, declarou Rebecca Usherwood, historiadora do Trinity College Dublin, citada no Smithsonian Magazine. "O proprietário era de considerável posição social elevada, provavelmente um oficial militar em vez de um soldado comum", alega.
Conjunto das moedas em ouro com a representação de nove Imperadores | Instituto Nacional de Investigação Arqueológica
A região onde foi descoberta esta coleção, era um território próspero no século IV. Porém, no início do século V, os povos germânicos começaram a expandir-se cada vez mais para o outro lado do rio Reno, tornando esse território “insustentável” para os romanos, descreve Usherwood. Por isso, a historiadora sugere que o dono da coleção de moedas pode ter enterrado a riqueza porque não conseguia fugir com ela. “É provável que o proprietário tenha morrido antes de poder recuperar o seu tesouro”, explica.
Para além do excelente estado de conservação, entre as moedas de ouro encontraram-se três com a imagem do Imperador Flavius Eugénio, que governou apenas dois anos, entre 392-394.
Curto poder de Eugénio
De acordo com fontes antigas, Eugénio terá usurpado ilegitimamente o poder após a morte de Valentiniano II e com ajuda de um oficial, mestre de soldados, conhecido por Arbogasto, tornou-se Imperador Romano do Ocidente.
Eugénio, ao revitalizar o movimento pagão por influência do aliado Arbogasto, numa época em que o Cristianismo estava já implantado no Império atraiu problemas. Teodósio, nascido na Hispânia, esteve inicialmente ligado ao Império do Oriente, mas acabou por tomar o Ocidente a Eugénio, derrotando-o na batalha do rio Frígido, em 394. Flávio Eugénio foi decapitado enquanto Teodósio consagrou-se como o último a governar o imenso território como imperador único.
Por ter sido um periodo muito curto de governo, as moedas cunhadas por Eugénio são difíceis de encontrar. “As suas moedas são especialmente raras porque o seu tempo no poder foi muito curto” sublinha Marjanko Pileki, investigador da Live Science.
O achado deste conjunto de moedas valeu à equipa de arqueólogos descobridora do depósito o montante de 308.600 euros, compensação atribuída pelo Estado luxemburguês, de acordo com a legislação do Património Cultural do país.
Durante os trabalhos, os investigadores também contaram com a ajuda do Serviço de Desminagem do Exército do Luxemburgo (SEDAL). Isto porque, a área escavada, para além de guardar informação arqueológica podia também esconder outros perigos tais como "a presença de numerosas munições e dispositivos explosivos que datam da Segunda Guerra Mundial", reporta o INRA.