Lygia Fagundes Telles integra colectanêa de contos luso-brasileira

Lygia Fagundes Telles, Prémio Camões, é uma das dez escritoras da antologia de contos eróticos "Intimidades" que procura dar a conhecer em Portugal e no Brasil a literatura contemporânea de língua portuguesa, lê-se no prefácio.

Agência LUSA /

"Intimidades", editado pelas Publicações D.Quixote, reúne cinco escritoras brasileiras, entre ela Lygia Fagundes Telles, e outras tantas portuguesas, entre estas Maria Teresa Horta e Lídia Jorge.

A investigadora Luísa Coelho, que assina o prefácio, justifica as opções feitas quanto ao género conto e a serem apenas mulheres.

"O conto está a ser recuperado e é muito apetecível devido ao seu carácter conciso" o que, escreve ainda Luísa Coelho, facilita a concentração do leitor.

"Mulheres porque se verificou que é nesse domínio que a divulgação é menor e portanto o desconhecimento mútuo [de portugueses e brasileiros] é maior".

Além de Lygia, as outras quatro escritoras brasileiras seleccionadas são Ana Miranda, que assina o conto mais curto da antologia, Nélida Piñon, Guiomar de Grammont e Branca Maria de Paula.

As cinco portuguesas são, além de Lídia Jorge e Maria Teresa Horta, Inês Pedrosa, Teolinda Gersão e Rita Ferro.

A escolha do erotismo como tema da antologia é justificada por Luísa Coelho "por se encontrar no centro de toda a problemática da arte".

Entre os dez contos, "O segredo de chiffon", assinado por Rita Ferro, revela a paixão de uma menina por "alguém importante, da política".

"Ele" como é sempre referido no conto, era dois anos mais velho que o seu pai, de cabelo branco e sempre de colete vestido.

A menina, "bisniquinha" como lhe chamavam os pais, tudo fazia para mostrar "a mulher que havia dentro de si" e chamar-lhe a atenção pois ele preenchia-lhe os sonhos onde ele dava "beijos pequeninos no nariz" e aconchegava os cobertores.

Até que um dia "Ele chegou" e a menina estava apenas vestida "com o vestido de chiffon azul sem nada por baixo" pôs-se "em bicos de pés para lhe dar na boca, as boas-vindas".

Depois "trancou-se" com ele na despensa, tirou o vestido e "foi a primeira e última vez" que o viu sem colete.

Agora, escreve a menina pela mão da escritora Rita Ferro, "vejo-o na televisão falando aos portugueses, com a secretária à frente da bandeira e o arranjo de rosas a tapar o microfone, com a voz decrépita e a cabeça ainda mais branca, os óculos de meia-cana a ampliar-lhe o discurso".

"Apenas um saxofone" é o título do conto de Lygia Fagundes Telles onde, conforme escreve Luísa Coelho, se relaciona o prazer e o desejo com transgressão.

Neste conto, prossegue a investigadora "o desejo que nasce entre os personagens surge do erotismo de uma forma de linguagem universal", uma característica apontada por vários investigadoras sobre a obra da escritora brasileira: a sua capacidade da sua narrativa se tornar universal.

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