Macbeth, um herói trágico de Shakespeare, no Teatro da Trindade
"Macbeth", uma tragédia de William Shakespeare sobre a ambição, o poder, o bem e o mal, vai estar em cena no Teatro da Trindade a partir de terça-feira, com o actor João Lagarto no papel principal.
A figura central da tragédia de Shakespeare é um general que luta pelo poder e acaba por ser vítima da sua própria ambição.
"As contradições da criatura, o seu lado negro, de desequilíbrio, de neurose, de doença mental, de delírio vieram-me regularmente à cabeça nos dois meses em que estivemos a ensaiar", afirmou à Lusa João Lagarto sobre a personagem a que dá vida em palco.
"É como se fosse um homem como os homens são, contraditórios, desequilibrados, honestos e desonestos, bipolares, como agora se diz", adiantou.
A acção decorre na Escócia: Macbeth regressa de uma batalha, vitorioso, a casa e três bruxas fazem-lhe revelações proféticas que despertam a sua ambição.
Encorajado pela mulher, Lady Macbeth, o general mata o rei e lança-se numa cruzada sangrenta até à sua morte.
"É um herói trágico do avesso, quer cumprir o seu destino", definiu o encenador Bruno Bravo.
Encenar esta peça foi um desafio lançado por Valerie Braddell (que faz de Lady Macbeth), das Produções Teatrais Próspero.
No entender do encenador, as peças de Shakespeare permitem sempre uma abordagem nova, porque "são textos muito amplos e permitem sempre encontrar outras coisas".
Nesta versão de Macbeth, que vai estar em cena no Teatro da Trindade até 15 de Março, foi explorado mais o conceito de tragédia e do "herói trágico do avesso" do que o conceito de poder.
Em palco vão estar oito actores, alguns encarnando várias personagens. O texto original foi encurtado, numa tradução e adaptação de Fernando Villas-Boas.
"A tradução tem um papel muito interessante porque pode traduzir- se Shakespeare de uma forma indizível, por mais volta que se dê não se consegue perceber. Há qualquer coisa na tradução que é fundamental tanto para a legibilidade do público, como para o actor dizer aquilo", sublinhou Lagarto, elogiando o trabalho de Villas-Boas.
"Quando se apanha o ritmo (da escrita de Shakespeare) dizem-se coisas fantásticas com aquelas palavras, conseguir tornar aquelas palavras nossas é um luxo, porque estão ao serviço de ideias e de coisas muito importantes", continuou o actor.
O espectáculo terá a duração de duas horas, sem intervalo.
Do elenco, além de João Lagarto e Valerie Braddell nos papéis principais, fazem parte Anabela Brígida, António Rama, Bruno Simões, Cristina Carvalhal, Diogo Dória e Sérgio Praia.
Nas palavras do encenador, os figurinos, da autoria de Paulo Mosqueteiro, tiveram como preocupação central, não o rigor histórico, mas "apanhar conceptualmente uma época, um imaginário medieval".
O cenário é de Stephane Alberto, o desenho de luz de José Manuel Rodrigues e a música de Sérgio Delgado.
Depois da sua carreira no palco do Teatro da Trindade, que celebra 140 anos em 2007, a peça vai estar em digressão pelo país até Junho.
Esta é a terceira peça de Shakespeare que as Produções Próspero levam à cena depois de "A Tempestade" e de "Romeu e Julieta" e, segundo João Lagarto, os espectáculos tiveram sempre uma boa resposta do público em todo o país.
"Shakespeare é um fenómeno que vende", admitiu o actor que faz de Macbeth, apontando a "modernidade" desta personagem e a actualidade dos problemas que o autor levanta na sua obra.