Macedo lança "Sem Nome" na capital de uma das suas "moradas literárias"
O escritor português de origem africana Helder Macedo, que está em Brasília para o lançamento do seu último romance, "Sem Nome", considerou hoje o Brasil um espaço cultural fundamental.
"Eu considero Brasil literariamente uma de minhas moradas fundamentais", afirmou Macedo à agência Lusa, lembrando que Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado foram modelo da literatura que se desejava em Portugal na época da ditadura salazarista.
O escritor acredita estar a lançar "Sem Nome" no Brasil num momento de reencontro das culturas dos dois países.
Segundo Helder Macedo, há actualmente um activo interesse editorial brasileiro em relação aos portugueses, que começa a haver também em Portugal em relação aos brasileiros.
Sobre seu último romance, que incide fundamentalmente sobre o processo de crescimento de uma rapariga de 26 anos que teve de se confrontar com uma situação de crise, Macedo disse que uma lição fundamental é aprender a dizer "não".
"Os sim podem se organizar a si próprios, mas saber recusar é extremamente importante", referiu.
Helder Macedo afirmou que o mundo hoje é muito diferente de quando tinha 26 anos, época de uma clara divisão ideológica entre esquerda e direita, e que a complexidade é maior.
"Por um lado, há os universalistas, que dizem que a democracia deve ser instituída em termos universais. Mas quando em nome da democracia se bombardeia e destrói um país para, teoricamente, instituir uma democracia para a qual não estava preparado, não podemos concordar", assinalou, em referência à invasão do Iraque.
"Por outro lado, há os relativistas, que defendem as diferenças culturais. Mas quando a diferença significa a castração feminina ou cortar a mão dos criminosos, aí a gente já não aceita o relativismo", acrescentou.
Na opinião de Macedo, não se pode acreditar em respostas absolutas porque estas convertem ideologias em crenças.
"E eu tenho muito medo de crenças; sou contra tudo aquilo que possa parecer fundamentalismo", destacou.
O autor disse que uma das epígrafes de "Sem Nome" é um verso de Drummond que diz "morro como vivi: desinformado".
"Todos nós vivemos desinformados, à procura, à busca de uma informação", justificou.
Helder Macedo revelou ter "emprestado" ao advogado bem- sucedido do livro, ex-militante do Partido Comunista Português, algumas das suas observações londrinas, mas negou haver qualquer semelhança, quer em termos biográficos quer em termos políticos, entre ele e o personagem, que também vive na capital inglesa.
"Não me interessa minimamente escrever ficção com elementos autobiográficos. O que é fascinante na construção de um romance é inventar mundos e inventar gente plausível", afirmou.
Macedo, que já lançou "Sem Nome" no Rio de Janeiro e em São Paulo, faz hoje uma noite de autógrafos na Embaixada de Portugal em Brasília e depois apresenta o seu quarto romance em Belo Horizonte, Niterói e Porto Alegre.
O livro, de 240 páginas, é lançado no Brasil pela editora Record.
Um dos mais importantes e premiados autores portugueses da actualidade, Helder Macedo iniciou a sua carreira literária em 1957, quando tinha apenas 21 anos, com o livro de poesia "Vesperal".
"Comecei poeta e espero morrer poeta, mas tem me dado mais prazer actualmente escrever ficção", revelou hoje à Lusa.
O autor estreou-se na ficção com "Partes de África" (1991), mas foi "Pedro e Paula" (1998) que lhe garantiu a consagração como ficcionista.
Em 2002 lançou "Vícios e Virtudes", que trata de um dos mitos nacionais de Portugal, o sebastianismo, a crença de que o jovem rei dom Sebastião, morto no Norte da África em 1578, voltará da viagem.
Macedo nasceu em 1935 na África do Sul e passou a infância em Moçambique. Mudou-se para Portugal em 1948 e desde 1960 mora em Londres.
Após o 25 de Abril, voltou por um curto período a Portugal e foi ministro da Cultura no governo de Maria de Lourdes Pintasilgo.
Especialista das obras de Camões, Helder Macedo é licenciado em História e Doutorado em Letras pelo King`s College.
Foi professor titular da cátedra Camões do King`s College de 1982 a 2004.