Mais de metade dos monumentos e obras de arte europeus são religiosos

Mais de metade do património artístico da Europa é constituída por obras de arte e monumentos religiosos, estimando-se que em países como Espanha, Itália e Portugal mais de 75 por cento daqueles bens culturais tenham origem religiosa.

Agência LUSA /

Cerca de 60 por cento dos bens culturais do "velho continente" estão "ligados ao culto e à devoção", segundo estimativas do Conselho da Europa, citadas pelo director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHADB), José António Falcão.

"Trata-se de um peso esmagador no contexto do universo cultural europeu", salientou, acrescentando que, em Portugal, a proporção é, segundo números oficiais do Ministério da Cultura, ainda maior, rondando nalgumas regiões os "80 por cento".

O especialista falava à agência Lusa à margem do Congresso Internacional Tesouros da Igreja, Tesouros da Europa, o primeiro fórum pan-europeu dedicado ao património artístico religioso na Europa, que começa, hoje, às 17:30, na Pousada de São Francisco, em Beja.

Promovido pela Europae Thesauri - Associação Internacional dos Tesouros e Museus da Igreja, o encontro reúne, até sábado, mais de 60 especialistas no estudo do património religioso, que vão debater os problemas do sector perante uma audiência de cerca de 300 participantes inscritos, vindos de toda a Europa.

Além do património da Igreja Católica, serão também analisados os casos da Igreja Ortodoxa, da Igreja Anglicana e de outras Confissões Protestantes, sem esquecer o Judaísmo e o Islamismo.

Segundo José António Falcão, esta "assembleia de sábios", co-organizada pelo DPHADB, pretende também, através de conferências, comunicações, "posters" e visitas guiadas, "reflectir sobre a situação actual e os desafios dos museus de património religioso".

Apesar do "peso esmagador" e da sua importância como referência histórica e artística, alertou José António Falcão, o património religioso está "profundamente ameaçado".

Fenómenos como práticas satânicas, actos de vandalismo, furtos e comércio ilegal de obras de arte, além da degradação e destruição de igrejas históricas e do envelhecimento dos museus eclesiásticos, "têm acrescentado novos problemas à conservação de um património frágil, muito disperso e vulnerável".

É uma situação "complexa" que, segundo o responsável, "faz-se sentir um pouco por toda a Europa e ressente-se da falta de uma estratégia que permita enfrentá-la com eficiência".

Neste capítulo, assinalou, o congresso de Beja, a partir de uma reflexão sobre o papel dos museus na sociedade contemporânea, em particular os de arte sacra, "vai discutir alternativas para se ultrapassar o marasmo que afecta muitos bens culturais religiosos na Europa".

Lembrando que os museus concebidos como "templos da sabedoria" vivem "tempos de crise", José António Falcão sublinhou que, no caso do património religioso, "é preciso sair das sacristias e abrir os núcleos museológicos às comunidades".

Por outro lado, continuou, "é preciso dar novo uso às igrejas já sem culto e rodear de condições de segurança os espólios em risco".

A criação de redes museológicas, como a da Diocese de Beja, a cedência de templos para funcionarem como oficinas de artistas, escolas de teatro e de circo e galerias de exposições, no Reino Unido, ou a criação de depósitos regionais de obras de arte em risco, em França, são exemplos apontados pelo especialista como "alternativas ao abandono puro e simples".

A dificuldade do "grande público" em compreender o sentido mais profundo das peças de arte sacra existentes nas igrejas e nos museus de arte sacra é outro dos problemas apontados por José António Falcão.

"É preciso facilitar o acesso às mensagens, com toda a sua riqueza religiosa e simbólica", defendeu, referindo que, por exemplo, "hoje há muita gente que não consegue descodificar o sentido de um crucifixo ou de uma imagem da Virgem com o Menino".

O recurso aos novos fundos comunitários e a criação de parcerias internacionais, a criação de emprego, o apoio ao turismo e a sustentabilidade de microempresas de serviços, por exemplo na área do restauro, são outros temas em análise.

A escolha de Beja para a realização do primeiro congresso da Europae Thesauri representa, segundo José António Falcão, "o reconhecimento do trabalho, pioneiro e persistente, que tem vindo a ser efectuado pelo DPHAD na valorização do património religioso do Baixo Alentejo".

Apostado em salvaguardar as igrejas históricas e o património litúrgico e eclesiástico, o DPHADB tem vindo a criar, desde 2002, a Rede Diocesana de Museus, que integra sete pólos distribuídos pelo distrito de Beja e Litoral Alentejano.

O tesouro da Igreja de Nossa Senhora das Salas (Sines), o Tesouro da Colegiada de Santiago do Cacém, o Tesouro da Igreja de São Vicente (Cuba), o Tesouro da Basílica Real (Castro Verde), o Museu de Arte Sacra na antiga igreja-colegiada de São Pedro (Moura, e o Museu do Seminário e o Museu Episcopal da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres (Beja) são os núcleos da rede.

A Europae Thesauri, com sede na Catedral de Liége, é uma Organização Não-governamental que agrupa os principais tesouros e museus de arte sacra da Europa.

Fundada em 2005, sob a presidência de honra do Príncipe Lorenz da Bélgica, a associação, que agrupa os principais museus da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e Suíça, tem como objectivos a "valorização, qualificação e divulgação do património religioso europeu".

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