Manuel Alegre nos 100 anos da Associação Aurora da Liberdade
A Aurora da Liberdade, em Matosinhos, associação criada por republicanos nos últimos anos da monarquia e sobrevivente aos 48 anos do regime de Salazar/Caetano, comemora segunda-feira 100 anos com uma sessão solene em que intervirá Manuel Alegre.
Nos anos 50, a Associação Recreativa Aurora da Liberdade (ARAL) viu as sua s instalações encerradas por decisão da polícia política do Estado Novo, "com o pretexto de que ali se poderia gerar agitação".
"Três dias depois, o regime de Salazar autorizou a reabertura da colectivi dade, mas impôs a alteração do seu nome, que passou de Grupo Dramático para Asso ciação Recreativa Aurora da Liberdade", recordou hoje à Lusa o presidente da ARA L.
João Lourival adiantou que Manuel Alegre falará sobre cultura e democracia na sessão solene comemorativa que se realiza segunda-feira, a partir das 21:30, no Teatro de Bolso da ARAL.
Na sessão será também apresentado o livro "Aurora da Liberdade - 100 Anos" , que traça a história da colectividade que testemunhou a queda da monarquia, os tempos conturbados da I República, os 48 anos da Ditadura de Salazar/Caetano e três décadas de democracia.
"A vinda de Manuel Alegre à "Aurora da Liberdade", que sucede à de Mário Soares, é um grande acontecimento para a colectividade e para a vida cultural de Matosinhos", disse João Lourival, que é também actor e encenador de boa parte d as peças do grupo.
A "Aurora da Liberdade" tem o teatro como actividade central, mas mantém t ambém em actividade vários núcleos ligados ao coleccionismo, nomeadamente filate lia, numismática, medalhística e filumenismo.
O teatro mobiliza 60 actores e técnicos e conta ainda com um grupo infanto -juvenil, com membros dos cinco aos 18 anos, que anualmente estreia duas a três peças e promove espectáculos musicais.
A associação vive de apoios autárquicos e dos contributos dos seus associa dos, que são cerca de um milhar.
Ao longo dos 100 anos de actividade, a "Aurora da Liberdade" afirmou-se pe la qualidade do seu trabalho em palco, que lhe valeu vários prémios, e também co mo escola de actores.
José Silva, que chegou a profissional do Teatro Experimental do Porto, Reg ina Baptista, muito ligada ao teatro radiofónico, e o próprio João Lourival, que chegou a interpretar o papel de vice-governador do Banco de Portugal na série t elevisiva "Alves dos Reis", são alguns dos actores saídos da "Aurora da Liberdad e".
João Lourival defendeu que, apesar da profissionalização crescente no teat ro, os grupos amadores continuam com espaço para se afirmar no panorama cultural português.
"Mas, como a vida não é uma realidade estática, temos de ser arrojados par a manter a nossa afirmação", acrescentou.
O outro ponto alto da vida recente da colectividade foi a inauguração a 13 de Maio de 2005, no dia do seu aniversário, de uma nova sede social, num invest imento próximo de cerca de 400 mil euros, que "representou a concretização de um sonho de duas décadas", comentou João Lourival.
A nova sede social, contígua à antiga, é um imóvel de cinco pisos, com um auditório para quinhentas pessoas, sala multiusos, restaurante bar e zonas admin istrativas.
A inauguração da nova sede permitiu que a antiga ficasse ocupada na sua to talidade pelo grupo de teatro, que ali trabalha e tem reunido o património de um século de actividade.
Este património foi objecto da exposição dos 100 anos de actividade da ARA L, que se realizou entre 13 de Maio e 30 de Junho últimos, no âmbito das comemor ações do centenário da colectividade.
A ARAL estreia todos os anos uma peça e promove o Festival de Teatro de Ma tosinhos, de que está a decorrer presentemente a 22ª edição.
Este festival termina em Março próximo com a estreia da peça "O Incorruptí vel", de Hélder Costa (director da Companhia de Teatro A Barraca, de Lisboa), co m encenação do autor e com João Lourival no papel protagonista.