Marcelo Rebelo de Sousa, personalidade "especial" com "traquinice" quase "infantil"

por Lusa

Lisboa, 28 nov (Lusa)- "Especial" e "fora do comum", muito "inteligente", "estudioso" e "trabalhador", mas também com "maldade" e "traquinice" quase "infantis", foram alguns adjetivos usados para "retratar" o ex-líder social-democrata e comentador Marcelo Rebelo de Sousa, na apresentação da sua biografia.

"É uma pessoa especial e fora do comum, que justifica uma biografia deste tamanho e com este conteúdo numa altura da sua vida em que não exerceu aqueles cargos e posições que fazem com que normalmente se escrevam biografias sobre as pessoas", sintetizou Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud e ex-ministra do PSD.

A social-democrata falava na sessão de apresentação da biografia de Marcelo Rebelo de Sousa (que optou por não marcar presença), escrita pelo jornalista Vítor Matos, no auditório da Faculdade de Direito de Lisboa.

Leonor Beleza, amiga de Marcelo "há mais de cinquenta anos", disse ter sido "convidada pelo autor" para apresentar a biografia, mas que o biografado lhe "fez saber" que queria que fosse ela.

Para a presidente da fundação Champalimaud, Marcelo Rebelo de Sousa é alguém que "recebeu muito da família e da educação que teve", mas que "sobretudo trabalha, esforça-se e constrói com mérito próprio".

"Ele poderia ter aceitado o que recebeu e vivido de uma maneira muito mais fácil e confortável para ele, em cima do que lhe foi dado, mas trabalhou sempre arduamente", assinalou.

Na faculdade onde o comentador político é professor há várias décadas, Beleza contou um episódio de quando eram colegas de turma no curso de Direito para ilustrar a capacidade intelectual e retórica de Marcelo, que "estudava a matéria antes de ser dada".

"Uma vez vimos um professor perguntar-lhe uma coisa que ele não sabia, no terceiro ano. Resolveu perguntar-lhe uma coisa que não tinha sido dada e nós percebemos que o Marcelo ainda não tinha estudado devidamente o assunto, o que não o impediu de, com duas ou três coisas que lhe foram sopradas, ter feito um brilharete a explicar. Desconfio que o professor percebeu, mas o que quero dizer é que o Marcelo não precisaria de ter trabalhado o que trabalhou para singrar, o que ele conseguiu foi resultado das suas qualidades absolutamente extraordinárias, mas de uma insatisfação permanente", relatou.

Já sobre os dias de hoje, a antiga ministra da Saúde considerou que o comentador político, com um programa semanal na TVI com audiências elevadas há vários anos, "exerce de facto um poder de influência, que condiciona", um "dom que é natural e que é trabalhado".

Já Vicente Jorge Silva, que trabalhou com Marcelo quando este era diretor do semanário Expresso, nos anos 80, optou por ler "uma carta aberta" dirigida ao ex-presidente do PSD.

Na sua intervenção, Vicente Jorge Silva considerou que ao longo da sua vida política Marcelo foi "devorado por essa paixão dupla e inconciliável de ser duas coisas ao mesmo tempo": Jornalista e político.

"No fundo, Marcelo, você nunca deu o salto de um mundo para o outro e ficou suspenso algures a meio deles", referiu o ex-deputado do PS, que afirmou que "a política é uma droga dura" que o comentador político "experimentou e em que se viciou para sempre".

Vicente Jorge Silva referiu ainda a "tentação pela traquinice e o culto pela intriga" de Marcelo, como "se fosse alguém que nunca saiu verdadeiramente da idade infantil".

Já o autor, Vítor Matos, explicou que esta foi uma biografia "consentida" por Marcelo de Rebelo, e não feita no formato "autorizada/não autorizada", que colaborou com mais de setenta horas de entrevistas com o jornalista da revista Sábado mas não teve acesso ao manuscrito antes da sua edição.

Vítor Matos abordou também a questão da candidatura de Marcelo à Presidência da República, um cenário que não pode ser completamente posto de lado.

"A questão das presidenciais é uma questão a considerar", declarou.

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