Memorial a Jorge Luís Borges descerrado em Lisboa na presença da viúva e de Saramago
Lisboa, 10 Dez (Lusa) - Um memorial em homenagem ao escritor argentino Jorge Luís Borges vai ser descerrado sexta-feira, em Lisboa, com a presença da viúva, Maria Kodama, de José Saramago e do presidente da autarquia, António Costa.
Uma nuvem em mármore, simbolizando a imaginação, e a mão de Borges, retirada de um molde pelo escultor argentino Federico Brook, que o conheceu, são os elementos principais deste monumento que ficará no Jardim do Arco do Cego e incluirá ainda parte do poema "Os Borges", onde o autor alude às suas origens portuguesas.
O secretário-geral da Casa da América Latina (CAL), Mário Quartim Graça, revelou hoje à Agência Lusa que a ideia de criar um monumento a Jorge Luís Borges (1899-1986) surgiu em 2005 pela Embaixada da Argentina em Portugal, "mas acabou por não ir avante por falta de financiamento".
A CAL "decidiu este ano, no âmbito das comemorações do décimo aniversário, retomar essa iniciativa para assinalar de forma duradoura esta data e homenagear Jorge Luís Borges", justificou.
Com o financiamento dos materiais usados para a peça assegurado pela CAL, e também com o apoio da viúva, da Câmara Municipal de Lisboa (CML), da Embaixada da Argentina, do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, e ainda da CP - Comboios de Portugal, a iniciativa vai ser concretizada sexta-feira.
Federico Brook também ofereceu o projecto do monumento, que inclui uma mão de Borges em bronze feita pelo escultor quando o conheceu.
Com cerca de dois metros e pesando duas toneladas, o memorial ao escritor argentino - com uma vasta obra poética criada ao longo de 50 anos - tem como material principal granito português cinzento escuro.
O poema "Los Borges", onde alude às origens portuguesas - o bisavô nasceu de Torre de Moncorvo - foi inscrito no monumento em castelhano e em português: "Nada o muy poco sé de mis mayores portugueses, los Borges: vaga gente que prosigue en mi carne, oscuramente, sus hábitos, rigores y temores".
Jorge Luís Borges "não tinha ainda qualquer referência do género em Lisboa, nem uma rua, nem qualquer construção em sua memória. Esta foi uma boa oportunidade para criar o memorial", observou Mário Quartim Graça sobre a peça que será descerrada às 12:00 de sexta-feira no Jardim do Arco do Cego.
"Será uma forma de incentivar os lisboetas a aprofundar o seu conhecimento sobre um dos grandes legados literários do século XX", salientou Mário Quartim Graça.
Nascido em Buenos Aires no dia 24 de Agosto de 1899, viajou com a família para a Europa, onde se instalou em Genebra, depois para Espanha, onde entrou em contacto com o ultraísmo, um movuimento poético de vanguarda, na altura.
Quando regressou à Argentina, em 1921, fundou com outros importantes escritores a revista "Proa", e, em 1923, publicou o seu primeiro livro de poemas "Fervor de Buenos Aires". Desde então adoeceu dos olhos, fez sucessivas operações às cataratas e perdeu quase por completo a visão em 1955.
Referiu-se à cegueira como "um lento crepúsculo que já dura mais de meio século".
Para superar a falta de visão ditou livros de poemas, contos e ensaios, criando uma obra literária universal traduzida em 25 idiomas, levada ao cinema e à televisão.
AG.
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