MEO Imaginarius também se faz de 12 produções por companhias sem direito a cachet

Santa Maria da Feira, 21 mai (Lusa) - O festival de artes de rua MEO Imaginarius, sexta-feira e sábado na Feira, integra, para além do cartaz principal, 12 projetos de reinterpretação do espaço público por artistas que competiram para participar no evento sem direito a cachet.

Lusa /

Essa programação paralela teve a sua primeira edição em 2009, sob o nome "Mais Imaginarius", e, segundo explicou à Lusa o diretor da generalidade do festival, procura "desafiar a comunidade artística internacional para a criação de novas abordagens ao espaço público".

"Este conceito funciona como um concurso e este ano recebemos cerca de 90 candidaturas, das quais o júri selecionou duas instalações e 10 espetáculos", revelou Bruno Costa.

"Ninguém recebe cachet, mas os participantes desta secção do festival estão autorizados a passar o chapéu pelos espectadores no final da atuação e o vencedor ganha o direito a participar no festival do ano seguinte, no cartaz principal", acrescentou.

Foi isso que aconteceu com a performance "Land(e)escapes", a produção que estreia este fim-de-semana na programação principal do festival - "já com cachet", garante Bruno Costa - depois de Ana Guedes, Marco Ferreira e Marta Angelozzi terem sido os vencedores individuais do Mais Imaginarius de 2013.

"No meu caso, participei pela primeira vez porque queria explorar novas linguagens e o festival parecia-me um boa oportunidade para testar esses projetos", explica a artista plástica Ana Guedes, que se destacou pelo conceito "Peças para piano e bicho de madeira".

"A experiência valeu a pena porque o Imaginarius é um laboratório interessante, muito diferente das galerias de arte, e o público vem ter connosco, coloca-nos questões e esse contacto também tem o seu apelo", realça.

Na edição de 2013 os três premiados não se conheciam, mas, entretanto, Ana Guedes, o bailarino Marco Ferreira e a artista plástica Marta Angelozzi corresponderam à proposta da direção do festival e desenvolveram um trabalho conjunto.

"Land(e)escapes" anuncia-se assim como "um cruzamento das linguagens próprias de cada um dos vencedores do ano passado", sendo que, para Ana Guedes, esse diálogo entre desenho, dança e som reflete outra característica do Mais Imaginarius, que é "o lugar dado à experimentação".

O italiano Stefano Iaboni, da companhia The Beat Brothers, participa nessa secção do festival pela segunda vez e reconhece-lhe outras vantagens: "Apesar de só nos pagarem as despesas de deslocação, esta é uma oportunidade para conhecer quem trabalha no festival e, eventualmente, estabelecer contactos para outros eventos".

Considerando que em Itália há menos apoios do Estado para as artes de rua e que a única receita disponível para muitos performers é a passagem do chapéu pelos espectadores em manifestações não organizadas, o ator lamenta que os artistas do seu país "cada vez arrisquem menos e muitos espetáculos pareçam iguais". Precisamente por isso, defende que certames como o Imaginarius representam também "crescimento artístico".

"A audiência de um festival está mais preparada para ver teatro real na rua", explica o clown que traz à Feira o teatro físico musical de "The Beat goes on". "Um ator sabe que, se apresentar qualidade, as pessoas vão apreciá-la e assim sente-se mais seguro - faz o espetáculo porque acredita nele, não porque precise de levar dinheiro para casa", afirma.

Para o espetador de festivais, também há mais garantias. "O teatro de rua vê-se de mais perto, é intimista e até permite às pessoas envolverem-se na performance", explica Stefano Iaboni. "Mas se o espetáculo é uma porcaria, elas podem simplesmente virar costas e ir embora", garante.

"O público contribui para o chapéu das companhias no final da performance, de acordo com o valor que lhe reconheceram", observa. "Em cinema, teatro ou concertos, quando se vê algo que não presta, infelizmente já se pagou o bilhete", conclui.

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