Mísia é "a melhor intérprete do fado" - Jornal Libération
A portuguesa Mísia "não será a mais bela voz feminina do fado actual, mas é a sua melhor intérprete", escreve na edição online o jornal francês Libération em texto sobre a actuação da fadista no Théatre de Bouffes do Nord, Paris.
"As matizes vocais, a gestualidade minimalista - escreve o jornal - , estão ao serviço da emoção e da beleza dos textos, a cantora apaga-se por detrás do seu repertório".
Ao contrário da "muito trabalhada" cenografia da sua actuação de há um ano no Trianon, em "Lisboarium", o conjunto de espectáculos que dá até ao dia 17 naquela sala parisiense, a cantora "privilegia o despojamento", aparecendo em palco "descalça, com um xaile e um vestido negro sem fantasia para evocar Lisboa.
"É preciso partir de um lugar para sentir nostalgia dele", observa Mísia, citada no texto.
Lisboarium "é, portanto - descreve o diário francês - uma homenagem à cidade que ela deixou há pouco para se instalar em Paris, um percurso através dos fados literários de que é pioneira: poesia de Fernando Pessoa ou de Mário de Sá-Carneiro, que ela musicou, ou textos que para ela escreveram José Saramago ou Agustina Bessa-Luís".
"Fiel ao seu hábito - lê-se noutro passo -, Mísia canta com a cabeça ligeiramente levantada, estendida para o microfone.
Simplesmente, não há microfone. No palco nu de Bouffes du Nord, o teatro de Peter Brook, a cantora e o seu brilhante trio de acompanhantes (guitarra portuguesa, guitarra e violino) dispensam a amplificação, o que a acústica da sala autoriza".
A marcha "Lisboa não seja francesa", que Amália Rodrigues tornou mundialmente conhecida, e temas do fado vadio surgiram a seguir aos "fados literários" no alinhamento do espectáculo.
A parte final reservou-a a fadista portuguesa a uma homenagem a Edith Piaf. "Em Paris, agora, Mísia está em casa", remata o jornal.