Monografia de Algés, praia aristocrata e popular que inspirou Garrett

A história de Algés, de estância de veraneio aristocrática a destino domingueiro popular, descrita por Almeida Garrett como o mais belo passeio depois de Sintra, é contada numa monografia lançada quarta-feira no palácio Ribamar.

Agência LUSA /

"A Cruz Quebrada e o Dafundo foram cantados como dos sítios mais belos depois de Sintra por Almeida Garrett, no romanceiro 32", disse à agência Lusa o autor de "Algés ao longo dos tempos", Levy Nunes Gomes.

A monografia regressa à época da reconquista cristã, em que um bispo cruzado criou o reguengo de Algés, um terreno propriedade régia que abrangia a área entre a ribeira de Alcântara e a ribeira do Jamor.

Em 1865, Algés "era uma aldeia minúscula", situada numa zona mais interior que actualmente, em que as mulheres eram essencialmente lavadeiras e os homens pastores ou agricultores.

Nessa época, a praia de Algés, frequentada pela alta sociedade, era palco, sobretudo em Setembro, dos 21 banhos que os médicos receitavam às crianças.

Segundo o autor, "até 1925 foi uma praia muito bem frequentada", tendo depois dessa data passado a ser o destino de domingo das "famílias mais humildes que vinham em rancho dos bairros populares de Lisboa com os seus farnéis".

A linha do comboio, em 1885, "faz desenvolver Algés, puxando-a mais para o litoral", num movimento que continua com a chegada do eléctrico, em 1901, e com a construção da Avenida Marginal, na década de 1940.

Levy Nunes Gomes dedica um capítulo da monografia às associações de Algés, em que destaca "uma das mais representativas colectividades portuguesas": o Sport Algés e Dafundo.

A associação desportiva que nasceu da fusão do Sporting Clube do Dafundo e do Algés Futebol Clube, em 1915, destacou-se na natação, modalidade cujos atletas competiram pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952.

O autor sublinha também a importância dos laços de solidariedade na vida comunitária de Vila Matias, "um agregado de grandes casas de veraneio, que com o declínio da praia se torna uma espécie de condomínio fechado de uma classe média e baixa".

"O sentimento de entre ajuda era muito forte. O problema de uma pessoa era o problema de toda a vila", contou o autor.

Na monografia é igualmente abordado o património arquitectónico, onde se destacam a Igreja de Nossa Senhora do Cabo, os palácios da Conceição, dos Anjos e de Ribamar, e até a existência de uma praça de touros, que chegou a competir com o Campo Pequeno, destruída em 1975.

Algés, que hoje se divide entre o concelho de Oeiras e Lisboa, chegou a pertencer ao concelho de Cascais, quando este absorveu todo o concelho de Oeiras, no final do século XIX.

A obra é o sétimo trabalho do género escrito por Levy Nunes Gomes, um técnico de seguros natural de Queijas que descobriu uma paixão pela história local quando duas alunas do ensino secundário lhe pediram ajuda para a realização de um trabalho escolar.

"Algés ao longo dos tempos", lançado pelas 18:00 no Palácio Ribamar, em Algés, tem prefácio da presidente da Câmara de Oeiras, Teresa Zambujo (PSD).


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