Cultura
Moore diz que o sistema de saúde norte-americano está KO
O realizador Michael Moore apresenta em “SiCKO” uma reflexão sobre o sistema de saúde norte-americano, que compara com os sistemas do Canadá, Inglaterra, França e até Cuba. Na sua perspectiva, a saúde americana está doente. O filme estreia em Portugal a 1 de Novembro.
O realizador parte da seguinte questão: “por que é que nós, o maior país ocidental industrializado, não temos uma cobertura gratuita e universal do sistema de saúde? Porquê nós? O que se passa connosco?”
A paternidade do sistema privado de saúde é atribuída a Richard Nixon (presidente dos EUA) e a John Ehrlichman (conselheiro de Nixon), cuja conversa de 17 de Fevereiro de 1971 foi recolhida por Moore junto do Gabinete de Gravações da Sala Oval. É possível ainda escutar uma dissertação de Ronald Reagan contra “os males da medicina socializada”.
Moore quer combater o mito da eficácia do sistema privado com a ideia que as empresas de saúde gastam mais de 25 por cento do seu orçamento em burocracia e custos administrativos.
O realizador, também autor do argumento, culpa o sistema. “Para a maior parte, o sistema baseia-se nos lucros e na ganância. Quando respeita à saúde das pessoas, o lucro não deve estar envolvido. Se alguém sugerir que o sistema de ensino deveria estar direccionado para o lucro, seria olhado como se fosse de Marte”, afirma Michael Moore.
Num discurso, polémico e muito direccionado, Moore investiga as várias facetas do seu “Eixo do Mal”: a indústria farmacêutica, os negócios hospitalares e as empresas de seguros. Alguns dos depoimentos provêm de antigos funcionários deste sistema, como uma médica de uma seguradora.
As companhias de saúde privadas são apontadas por Moore como o maior impedimento a um sistema universal de saúde e sustenta a necessidade de uma apertada regulação para as empresas farmacêuticas, na sua opinião responsáveis pela manutenção de preços altos nos medicamentos, dificultando e evitando o acesso à classe média americana. O incentivo a uma atitude mais participativa e revindicativa é o terceiro aspecto nomeado por Moore para melhorar o sistema de saúde nos Estados Unidos.
Moore recebeu 25 mil e-mails no período de uma semana, após ter desafiado os visitantes do seu site michaelmoore.com que relatassem as suas histórias com o sistema de saúde dos Estados Unidos. Desta base de informação registou cerca de 200 depoimentos ao longo de 130 dias de filmagem em todo o país, mas também no Canadá, Reino Unido, França e Cuba.
Da filmagem nos países fora dos Estados Unidos, Moore retém uma experiência que desvendou um nova forma de ver a vida, simultaneamente feliz e depressiva. Moore sublinha ainda “que a ignorância nunca é um aspecto positivo – não podes tomar as melhores decisões sem ter toda a informação. Isto aplica-se à nossa vida diária e à nossa vida política”.
Os candidatos à Casa Branca não apresentam respostas satisfatórias. Segundo Moore, isto acontece por falta de vontade política.
Michael Moore foi premiado com um Oscar pelo documentário sobre o tiroteio no liceu de Columbine, “Bowling for Columbine”, e o seu trabalho sobre a Administração norte-americana e os atentados do 11 de Setembro, “Farenheit 9/11” é considerado pela distribuidora um “campeão de bilheteiras”.
O documentário, totalmente direccionado para os problemas do sistema de saúde americano, tem a grande virtude de nos alertar para as assimetrias entre os países e as diferenças nos modos de vida em vários países.
As personagens de Moore
O realizador reuniu um grupo de oito pessoas, entre elas três antigos voluntários das operações de busca do 11 de Setembro, com quem viajou até Cuba. Inicialmente esta viagem tinha como destino a Baía de Guantanamo, onde Moore tentou obter para o seu grupo o mesmo tipo de assistência dada aos detidos na base naval.
Donna Smith, antiga colunista de um jornal, e o seu marido, que sofreu três ataques cardíacos, são obrigados, aos 50 anos, a viver na cave da filha mais nova, devido às elevadas despesas com medicamentos.
Reggie Cervantes, de 46 anos, voluntária nas buscas dos atentados às Torres Gémeas, ficou impedida de trabalhar devido a infecções de olhos, ouvidos e garganta; aplicou todas as suas poupanças numa casa no campo para garantir melhor qualidade de vida aos seus filhos.
Bill Mahler, de 54 anos, foi outro voluntário do 11 de Setembro que devido ao trabalho em Nova Iorque passou a sofrer de stress pós-traumático, tendo perdido a dentição superior.
Face ao silêncio das autoridades de Guantanamo, o grupo viaja para Havana, Cuba, onde obteve ajuda gratuita. Donna Smith reduziu de nove para quatro os medicamentos a tomar diariamente. Reggie Cervantes foi tratada às infecções de olhos e nariz e descobriu que o mesmo medicamento que nos EUA lhe custava mais de 60 euros lhe custava alguns cêntimos em Cuba. Bill Mahler recebeu um tratamento completo à dentição superior.
As estísticas de Moore
Ao longo de todo o filme, o realizador apresenta números que evidenciam a má escolha por um sistema de saúde privado nos Estados Unidos em detrimento de um público.
- Os censos de 2006 apontaram que 46 milhões de americanos não têm seguro de saúde e que um terço das famílias a viver na pobreza não tem este tipo de seguro;
- Um relatório das Nações Unidas revela que as pessoas sem seguro têm menos probabilidade de receber cuidados preventivos, acabando por serem mais vezes hospitalizadas por motivos que seriam evitáveis;
- Metade das falências das famílias deve-se às contas médicas, mas três-quartos destas pessoas têm seguro de saúde;
- A taxa de mortalidade infantil nos Estados Unidos é superior à de muitos outros países desenvolvidos, mas também à de El Salvador e de Cuba;
- Os naturais do Canadá vivem em média mais três anos do que os naturais dos Estados Unidos;
- Existem quatro vezes mais “lobbistas” pelo sistema de saúde em Washington do que membros do Congresso.
A paternidade do sistema privado de saúde é atribuída a Richard Nixon (presidente dos EUA) e a John Ehrlichman (conselheiro de Nixon), cuja conversa de 17 de Fevereiro de 1971 foi recolhida por Moore junto do Gabinete de Gravações da Sala Oval. É possível ainda escutar uma dissertação de Ronald Reagan contra “os males da medicina socializada”.
Moore quer combater o mito da eficácia do sistema privado com a ideia que as empresas de saúde gastam mais de 25 por cento do seu orçamento em burocracia e custos administrativos.
O realizador, também autor do argumento, culpa o sistema. “Para a maior parte, o sistema baseia-se nos lucros e na ganância. Quando respeita à saúde das pessoas, o lucro não deve estar envolvido. Se alguém sugerir que o sistema de ensino deveria estar direccionado para o lucro, seria olhado como se fosse de Marte”, afirma Michael Moore.
Num discurso, polémico e muito direccionado, Moore investiga as várias facetas do seu “Eixo do Mal”: a indústria farmacêutica, os negócios hospitalares e as empresas de seguros. Alguns dos depoimentos provêm de antigos funcionários deste sistema, como uma médica de uma seguradora.
As companhias de saúde privadas são apontadas por Moore como o maior impedimento a um sistema universal de saúde e sustenta a necessidade de uma apertada regulação para as empresas farmacêuticas, na sua opinião responsáveis pela manutenção de preços altos nos medicamentos, dificultando e evitando o acesso à classe média americana. O incentivo a uma atitude mais participativa e revindicativa é o terceiro aspecto nomeado por Moore para melhorar o sistema de saúde nos Estados Unidos.
Moore recebeu 25 mil e-mails no período de uma semana, após ter desafiado os visitantes do seu site michaelmoore.com que relatassem as suas histórias com o sistema de saúde dos Estados Unidos. Desta base de informação registou cerca de 200 depoimentos ao longo de 130 dias de filmagem em todo o país, mas também no Canadá, Reino Unido, França e Cuba.
Da filmagem nos países fora dos Estados Unidos, Moore retém uma experiência que desvendou um nova forma de ver a vida, simultaneamente feliz e depressiva. Moore sublinha ainda “que a ignorância nunca é um aspecto positivo – não podes tomar as melhores decisões sem ter toda a informação. Isto aplica-se à nossa vida diária e à nossa vida política”.
Os candidatos à Casa Branca não apresentam respostas satisfatórias. Segundo Moore, isto acontece por falta de vontade política.
Michael Moore foi premiado com um Oscar pelo documentário sobre o tiroteio no liceu de Columbine, “Bowling for Columbine”, e o seu trabalho sobre a Administração norte-americana e os atentados do 11 de Setembro, “Farenheit 9/11” é considerado pela distribuidora um “campeão de bilheteiras”.
O documentário, totalmente direccionado para os problemas do sistema de saúde americano, tem a grande virtude de nos alertar para as assimetrias entre os países e as diferenças nos modos de vida em vários países.
As personagens de Moore
O realizador reuniu um grupo de oito pessoas, entre elas três antigos voluntários das operações de busca do 11 de Setembro, com quem viajou até Cuba. Inicialmente esta viagem tinha como destino a Baía de Guantanamo, onde Moore tentou obter para o seu grupo o mesmo tipo de assistência dada aos detidos na base naval.
Donna Smith, antiga colunista de um jornal, e o seu marido, que sofreu três ataques cardíacos, são obrigados, aos 50 anos, a viver na cave da filha mais nova, devido às elevadas despesas com medicamentos.
Reggie Cervantes, de 46 anos, voluntária nas buscas dos atentados às Torres Gémeas, ficou impedida de trabalhar devido a infecções de olhos, ouvidos e garganta; aplicou todas as suas poupanças numa casa no campo para garantir melhor qualidade de vida aos seus filhos.
Bill Mahler, de 54 anos, foi outro voluntário do 11 de Setembro que devido ao trabalho em Nova Iorque passou a sofrer de stress pós-traumático, tendo perdido a dentição superior.
Face ao silêncio das autoridades de Guantanamo, o grupo viaja para Havana, Cuba, onde obteve ajuda gratuita. Donna Smith reduziu de nove para quatro os medicamentos a tomar diariamente. Reggie Cervantes foi tratada às infecções de olhos e nariz e descobriu que o mesmo medicamento que nos EUA lhe custava mais de 60 euros lhe custava alguns cêntimos em Cuba. Bill Mahler recebeu um tratamento completo à dentição superior.
As estísticas de Moore
Ao longo de todo o filme, o realizador apresenta números que evidenciam a má escolha por um sistema de saúde privado nos Estados Unidos em detrimento de um público.
- Os censos de 2006 apontaram que 46 milhões de americanos não têm seguro de saúde e que um terço das famílias a viver na pobreza não tem este tipo de seguro;
- Um relatório das Nações Unidas revela que as pessoas sem seguro têm menos probabilidade de receber cuidados preventivos, acabando por serem mais vezes hospitalizadas por motivos que seriam evitáveis;
- Metade das falências das famílias deve-se às contas médicas, mas três-quartos destas pessoas têm seguro de saúde;
- A taxa de mortalidade infantil nos Estados Unidos é superior à de muitos outros países desenvolvidos, mas também à de El Salvador e de Cuba;
- Os naturais do Canadá vivem em média mais três anos do que os naturais dos Estados Unidos;
- Existem quatro vezes mais “lobbistas” pelo sistema de saúde em Washington do que membros do Congresso.