Morna cabo-verdiana é oficialmente Património Imaterial da Humanidade

por RTP
A morna conheceu o seu expoente maior fora de Cabo Verde através da cantora César Évora (1941 - 2011) Reuters

A partir de agora, a morna cabo-verdiana é Património Cultural Imaterial da Humanidade. Foi oficialmente reconhecida pela UNESCO esta tarde.

Na 14.ª reunião anual do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO foi adoptada a classificação de património imaterial da humanidade, na cidade de Bogotá, na Colômbia.

"Declaro a decisão adotada", anunciou María Claudia López Sorzano, secretária para a Cultura, Lazer e Desporto da cidade de Bogotá e que preside a esta reunião anual do Comité.

A secretária questionou se seriam colocadas adendas, algo que não foi feito. Para além deste estilo musical, existem mais 39 candidaturas que estão a ser avaliadas pela UNESCO.

A decisão foi acompanhada pelo ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Aníbal Barbosa Vicente, e pelos artistas Nancy Vieira e Manuel Candinho.

Com expressão máxima em Cesária Évora, uma das figuras maiores de Cabo-Verde, a morna tornou-se num marco cultural no mundo inteiro. A candidatura do país foi entregue em março de 2018, com mais de 300 entrevistas e 1000 páginas sobre este património cultural.

De acordo com o dossiê da candidatura, a morna terá surgido no século XIX, não sendo consensual a origem do nome e ilha onde nasceu: Boa Vista ou Brava.
Músicos cabo-verdianos orgulhosos
Muitos são os artistas de Cabo Verde que se mostram orgulhosos pela distinção. Em declarações à Lusa, artistas como Aniceto Gomes, Carlos 'Gubassa' Santos, Didi Rodrigues ou Zeca Couto falaram sobre a insígnia conseguida em Bogotá e revelam que a música vai agora ter muito mais atenção mundial.

"Vai trazer muita coisa boa e vai fazer com que a morna tenha mais atenção dos mais novos e também seja ensinada nas escolas", pediu inclusivamente Didi Rodrigues.

Já Zeca Couto diz que a decisão enche os cabo-verdianos de orgulho. "Neste momento, qualquer cabo-verdiano sente-se realizado. É o género único de Cabo Verde, que merece ser realçado", declarou
"Data histórica" para a morna
É assim que o presidente cabo-verdiano classifica a distinção à morna. Jorge Carlos Fonseca não escondeu o orgulho pela decisão da UNESCO e espera que a mesmo aprofunde o estudo e divulgação deste estilo musical.

"Quero dar os meus parabéns a todas as equipas envolvidas neste processo, pelo sucesso obtido, e desejar que esta importante classificação possa contribuir para o aprofundamento do estudo da morna, sua maior divulgação internacional, maior aprendizagem pelos mais jovens, e o desenvolvimento de todos os requisitos que resultam deste novo estatuto, para o bem da nossa música, da nossa cultura, e desta terra sonora que é Cabo Verde".

Através da rede social Facebook, Jorge Carlos Fonseca não deixou passar a decisão tomada em Bogotá e que tornou a Morna em património imaterial da humanidade.

Para o chefe de Estado cabo-verdiano, a classificação vem coroar não apenas quem apresentou a candidatura, mas também aos milhares de músicos, compositores, intérpretes, cantadeiras, amantes e apaixonados por este estilo musical, nas ilhas, na diáspora ou mesmo nos diversos cantos do mundo.

"É com grande júbilo que recebemos a notícia de que a morna é, a partir de agora, oficialmente, Património Imaterial da Humanidade, classificada pela UNESCO, ao lado de diversas outras expressões artísticas e culturais".
As origens da morna
A morna foi criada a partir de uma mistura de sons com razíes profundamente africanas e com influências da modinha luso-brasileira e o landum. Uma das referências mais antigas ao estilo remonta de 1861, por parte do russo Konstantin Staninkovitch, oficial da Marinha russa, numa altura em que visitou Cabo Verde.

No processo entregue por Carbo Verde à UNESCO pode ler-se que a "morna é uma prática musical que se estrutura em três dimensões: melodia, poesia e dança, caracterizando-se pelo compasso quaternário, ritmo lento e predominância dos esquemas tonais menores clássicos perfeitos de influência europeia".

A música é cantada em crioula cabo-verdiano acompanhada por um solista (homem ou mulher), podendo também ser instrumental. É criada uma canção melancólica, ligada ao sofrimento, amor, saudade, tristeza, ironia ou ternura.

O instrumento de excelência é o violão mas a morna também pode ser tocada com viola, cavaquinho, violino e piano. 

(c/ Lusa)
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