Morreu aos 55 anos o escritor Carlos Ruiz Zafón

Morreu esta sexta-feira, em Los Angeles, nos Estados Unidos, o escritor catalão Carlos Ruiz Zafón. O autor lutava há dois anos contra um cancro. Tinha 55 anos.

Carlos Santos Neves - RTP /
Zafón, o autor de “A Sombra do Vento”, morreu em Los Angeles, nos Estados Unidos Gustau Nacarino - Reuters

“Hoje é um dia muito triste para toda a equipa da Planeta, que conheceu e trabalhou com ele durante 20 anos, durante os quais se forjou uma amizade que transcende o profissional”, reagiu já a editora de Carlos Ruiz Zafón, para acrescentar que, com a sua morte, esgota-se a voz literária de “um dos maiores romancistas contemporâneos”.“A Sombra do Vento” colecionou prémios e foi escolhida em 2007 por 81 escritores e críticos espanhóis e latino-americanos como uma das 100 melhores obras em Castelhano em 25 anos.


Foi com “A Sombra do Vento”, obra publicada em 2001, que Zafón ascendeu ao primeiro plano da literatura internacional. Foi o primeiro título de uma tetralogia lançada sob o título “O Cemitério dos Livros Esquecidos”. “O Labirinto dos Espíritos”, de 2016, encerrou este conjunto.

A viver em Los Angeles desde 1993, o escritor natural de Barcelona trabalhava para a indústria cinematográfica de Hollywood.

Antes de enveredar pelo universo da literatura, Carlos Ruiz Zafón trabalhou como publicitário e para o cinema, como guionista. Um percurso que sintetizou em 2008 durante uma entrevista concedida ao jornal espanhol El País na Feira do Livro de Guadalajara, no México: “De guionista, muito; de publicitário, muito menos”.Avesso ao círculo literário, Zafón referia-se-lhe assim: “O suposto mundinho literário é um por cento literário e 99 por cento mundinho”. 


“A publicidade foi o meu primeiro trabalho, tinha 19 ou 20 anos, comecei como copy e acabei como diretor criativo; aprendi muito e ganhava muito bem a vida. Muitos escritores, como Don Delillo, trabalharam em publicidade porque toca a literatura. Ali aprendes a ver a linguagem, as palavras, como imagens”, explicava então.

“É como os romancistas que foram jornalistas. Michael Connelly, um tipo que me interessa muito, foi repórter em tribunais de Los Ángeles e sem essa formação a sua literatura seria muito distinta, sem dúvida. Mas o que impacta a minha obra e que nunca se diz é o meu trabalho dentro do cinema”.

Numa nota biográfica disponível no site oficial do autor, pode ler-se: “A minha predileção pelos dragões vem de longe. Barcelona é uma cidade de dragões, que adornam e vigiam muitas das suas fachadas, e temo ser um deles. Quem sabe, por solidariedade com esse pequeno monstro, há muitos anos que os coleciono e lhes ofereço refúgio em minha casa, dragoneira em uso. Ao dia de hoje são mais de 400 criaturas dragonas aquelas que compõem o meu censo, que aumenta a cada mês. Além de ter nascido no ano, claro, do dragão, os meus vínculos com estas bestas verdes que respiram fogo são numerosos. São criaturas noturnas, adeptas das trevas, não particularmente sociáveis, pouco amigas de fidalgos e cavaleiros andantes e difíceis de conhecer”.

Em 2016, Luís Caetano entrevistou Carlos Ruiz Záfon para o programa Outras Palavras, a propósito do lançamento do último título da tetralogia “O Cemitério dos Livros Esquecidos”.
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