Poetisa, dramaturga, ficcionista, ensaísta e tradutora, Fiama Hasse Pais Brandão ficará para a história da literatura portuguesa como uma autora reconhecidamente multifacetada, cuja extensa obra lhe valeu diversos prémios.
Morreu Fiama Hasse Pais Brandão, grande nome da escrita poética portuguesa

Fiama Hasse Pais Brandão, cujo último livro, "Contos da Imagem" (2005), foi distinguido com o Prémio da Associação de Críticos Literários, revelou-se em "Poesia 61", ao lado de outros grandes nomes da actual escrita poética portuguesa.
Embora não fosse propriamente um movimento literário - a antologia poética então lançada com esse título não ambicionava tal estatuto -, "Poesia 61" consagrou, desde logo, uma profunda alteração na forma de se dizer poesia em Portugal.
Aplaudida por alguns, mas acolhida por outros com indiferença, se não mesmo com a mais hostil das rejeições, "Poesia 61" foi o "berço" de algumas das mais notáveis vozes da poesia portuguesa da actualidade, uma das quais precisamente Fiama.
A intensidade da sua voz poética, o rigor e a depuração formal, sem cedências, evidenciaram-se logo no seu segundo título, "Barcas Novas", em que o leitor atento de então percebeu a alusão à guerra colonial, embora sem qualquer registo panfletário a desvirtuar a essencialidade poética.
Nascida em 1938 em Lisboa, o seu percurso como escritora foi se consolidando ao longo dos anos, com uma produção diversificada na poesia, teatro, ficção, ensaio e tradução, cuja qualidade a crítica atenta tem realçado e alguns importantes prémios têm distinguido.
Alguns dos seus títulos na poesia são: "O Texto de João Zorro" (1974), "Novas Visões do Passado" (1975), "Homenagemàliteratura" (1976), "Área Branca" (1979), "Três Rostos" (1989), "Epístolas e Memorandos" (1996) e, mais recentemente, "As Fábulas" (2002).
Em prosa, escreveu, entre outros, "O Retratado" (1976), "Falar sobre o Falado" (1989) e "Movimento Perpétuo" (1990) e para teatro, "Os Chapéus-de-Chuva" (1960), "O Testamento" (1962), "Poe ou o Corvo" (1979), "Quem Move as Árvores" (1979) e "Noites de Inês-Constança" (2005).
Na lista de galardões literários da autora incluem-se o Prémio de Revelação de Teatro da Sociedade Portuguesa de Escritores (1961), o Prémio de Poesia do Pen Clube (1986), o Prémio D. Dinis de Poesia e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, estes dois últimos no mesmo ano (1996), para "Epístolas e Memorandos", e o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários pelo conjunto da obra (2005).
Sobre a sua obra poética escreveu o também poeta António Ramos Rosa: "Fiama sente a inextricável complexidade do mundo e a sua perplexidade perante ela é permanente, embora não passiva. Essa perplexidade não paralisa a investigação activa do real, antes parece estimulá-la e desenvolvê-la".
Por sua vez, o poeta Gastão Cruz, com quem foi casada, afirma que, "ao longo de 30 anos, a poesia de Fiama Hasse Pais Brandão mais não fez do que aprofundar as relações entre a linguagem e o mundo, entre as palavras e a vida, entre as imagens linguísticas e as imagens reais".
Os textos teatrais da autora são, na opinião do crítico Manuel João Gomes, "assumidamente literários mas irreprimivelmente teatrais, buscam o específico teatral sem desmentir a poesia, buscam o poético enquanto se esforçam por falar do real".